segunda-feira, julho 10, 2006

As aventuras de um gaúcho-alemão na terra do foosball em 2006

Meu grande amigo Nelson Furtado, jornalista, ex-colega de Fabico (nos formamos juntos) e um cara super-hiper-ultra inteligente e gente fina vive há mais de 10 anos na Alemanha. Em Dortmund, mais precisamente. É casado com a Ulla, uma alemã da gema, e o casal tem duas filhas.

Pois o Nelson me mandou um e-mail com suas impressões sobre a Copa do Mundo, no melhor estilo bom observador que é. Como o Nelson é do tempo da carta, do envolope e do selo, a msg ficou meio extensa, mas editei e quero compartilhar com quem quiser ler. Pena que o Nelson voou para a Westfália logo após a nossa formatura. Um talento jornalístico que poderia estar brilhando aqui no lado debaixo do Mampituba.


Alô, Gerson, lenda viva do jornalismo gaúcho! Mal a gente pisca um olho e já se passou quase um mês desde o teu e-mail supimpa. É muito bom ter notícias tuas, dos colegas da Fabico e dos bastidores do poder.

Quando eu cheguei aqui, eu nada entendi. Epa. Não era plagiando que eu queria começar. A Alemanha me parecia um país muito diferente do Brasil. A medida que os anos vão se passando, me surprendo porém com os milhões de semelhanças. E nesta Copa do Mundo, finalmente a Alemanha, a sociedade, o povo, se portou um tanto quanto os brasileiros.

A Copa monopolizou as atenções. Pessoas que nunca na vida se interessaram por futebol, de repente, adornaram suas casas e seus carros com bandeirinhas e conversavam com desenvoltura sobre o jogo de ontem, o de anteontem e o de amanhã. Quer dizer, até a seleção alemã perder para a Itália em Dortmund, o principal assunto do país em todos os círculos sociais foi a Copa. Por sorte, Dortmund é a cidade da Copa. Não é porque eu tô aqui, mas é porque aqui tem a torcida mais fanática da Alemanha. Borussia na veia. A cidade foi sede de sete jogos e por aqui passaram dez seleções. E junto com os times, veio um contingente enorme de „turistas esportivos“ (expressão descoberta pelos jornais alemães).

A cidade especialmente decorada para o evento (não foram poupados esforços, tecnologia e euros) foi envovida numa atmosfera de eterna festa. Milhares de pessoas de países diferentes naquilo que dá para chamar de Fórum Futebolistico Mundial. E posso afirmar com certeza que o melhor da Copa acontece fora dos estádios. Além do encontro de gente diferente e falando outro idioma em cada canto da cidade, houve uma programação paralela para agradar qualquer gosto. Claro, para essa multidão tem que ser oferecido um vasto cardápio não só turístico-gastronômico mas também cultural. A Copa é o carnaval das culturas. Em meio a essa imensidão e essa multidão, tentei na medida do possível tomar parte da festa. Algumas vezes, em dias de jogos em Dortmund fomos no centro cidade para ver a agitação e o que as torcidas tem para oferecer visualmente. Suécia, Togo, Trinidad Tobago, Japão, Polônia, Ghana, cada país trás um tanto de sua cultura, da sua música e do seu modo de se comportar no exterior. Um simples passeio no centro repleto de gente diferente se torna uma grande aventura, quase como se a gente estivesso num filme ao vivo.

Moramos bem perto do estádio de futebol. Nas duas vezes que o Brasil jogou aqui, fui ali conferir o movimento da torcida. Não gostei. Os brasileiros que vieram para a Copa não sabem se comportar num país estrangeiro. Em geral, são arrogates e mal educados. Gritam palavrões, não entenderam o espírito da Copa. No fundo, a maior parte da pequena torcida brasileira é formada ou por brasileiros que vivem na Europa ou por abonados que viajam com o dinheiro da mesada do papai. Gente que pode ser despresada pois não retratam e nem representam o povo brasilieiro. No meio dos berros e da indecência destas turminhas, os legítimos brasilieros que por ventura conseguiram chegar aqui, desaparecem e não formam um número possível para que sejam identificados.

O Westfalenstadion tem capacidade para 65 mil pessoas. Posso garantir que nos jogos do Brasil, não haviam mais do que três mil brasileiros. Esses torcedores que a gente vê na televisão cobrindo o estádio de amarelo são alemães que compraram uma camiseta por dez euros e foram torcer para o Brasil. O único jogo que assisti no estádio foi Brasil e Ghana. Em nenhum momento a torcida apoiou o time com o grito „Brasil, Brasil“. Os alemães no estádio estavam entediados com o jogo e decepcionados com a seleção brasilera. A torcida de Ghana foi muito mais efetiva no apoio, fizeram muito mais pelo seu time que os „brasileiros“ pelo time do Pareira. Por sorte, aos atacantes de Ghana falta pontaria no chute a gol. Se não, o Brasil já poderia ter voltado para casa ainda mais cedo.

Quanto a torcida brasileira na Copa, a imprensa brasileira pinta um quadro que quase nada tem a ver com a realidade. Bom, a Copa é um assunto sem fim e eu apenas reproduzo aqui o sentimento geral momentâneo neste pedaço de mundo que me cerca. Assim como a grande maioria da população, eu acordo com a Copa, almoço com a Copa, tomo banho com a Copa, durmo com a Copa e sonho com a Copa. Só que agora a festa, porque não dizer, o devaneio, está terminando.

No próximo domingo estaremos entrando em férias, vamos passar vinte dias em Portugal. É a nossa primeira viagem com a pequena Luana (ela tem quase três anos). A última vez que atravessamos as fronteiras alemãs foi no ano dois mil, quando fomos para o Brasil. Até a volta.

E deixa o samba rolar na internet. Um grande abraço Nelson

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