sexta-feira, dezembro 28, 2007

Filas



É incrível como as pessoas gostam de uma fila. Não aquela simpática raça canina. Fila mesmo, tipo indiana, de um atrás do outro. Tinha até um samba, do Paulinho Mocidade, que tratava sobre isso: "fila para entrar na fila, fila pra furar a fila, fila pra sair da fila..." e por aí vai.

Hoje foi o último dia de expediente externo nas agências bancárias. Muita gente procurou as agências para quitar impostos e tributos, sobretudo IPVA, IPTU e afins. E dê-lhe fila. E eu detesto entrar em banco. Procuro, sempre que possível, pagar todas as minhas contas através do débito em conta, sem enfrentar fila de espera e sem sentir a dor da separação com o rico dinheirinho.

Alguém ainda precisa fazer um estudo psicológico ou antropológico do que se passa em um banco quando as filas estão grandes ou gigantescas. Sempre tem um chato que fica falando alto, e reclamando do atendimento e enchendo o saco dos clientes e dos bancários. Ora, se os trabalhadores que ficam nos guichês tivessem uma varinha de condão, lógico que eles gostariam que o atendimento fosse o mais rápido possível. Mas muitas vezes, o próprio correntista tem sua parcela de culpa. Um funcionário do banco percorreu a fila para tentar resolver o problema dos clientes e até abreviar a permanência dos mesmos dentro da agência, se colocando à disposição para ajudar a pessoa a pagar as contas no caixa eletrônica e a fazer depósitos sem ter que passar pelos guichês. Mas não. A maioria das pessoas fincava o pé e dizia que queriam fazer as movimentações no próprio caixa. Vai entender...

Eu mesmo fui no Banrisul para quitar o IPVA 2008 do Brisamóvel. E iria pagar o imposto com um cheque do Real, tudo porque o Real não recebe pagamento do IPVA. Se eu fosse correntista do Banrisul eu nem entrava na agência.

Mas, voltando à visão antropológica, a fila do banco (assim como as filas de posto de saúde) tem poder mágico de aproximar as pessoas. É possível fazer amigos naqueles escassos minutos de aguardo para ser atendido. É uma amizade efêmera, mas tem pessoas que possuem o dom de se "desnudarem" e confiarem intimidades para outras que nunca viram na vida.
Hoje, dia 28, foi o último dia de atendimento dos bancos. No retorno do feriadão, no dia 2 de janeiro, o movimento tende a ser ainda maior e, com isso, mais extensas serão as filas. E vamos que vamos porque a fila tem que andar!

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Chumbo nas renas


Como diz o jornalista José Simão: o Brasil é mesmo o país da piada pronta.

Manchete do site G1 da tarde de hoje:


Helicóptero que levava papai noel vira alvo de tiros

Aeronave foi atingida ao sobrevoar favela no conjunto de favelas da Maré, Zona Norte do Rio. Piloto retornou para heliponto e Bom Velhinho teve que seguir de carro até festa de Natal.

A violência do Rio não dá trégua nem para Papai Noel. No último domingo (16), um helicóptero que transportava um bom velhinho, rumo a uma festa de Natal na favela Baixa do Sapateiro, no conjunto de favelas da Maré, Zona Norte do Rio, foi atingido por duas balas de fuzil quando sobrevoava a comunidade Vila do João, dominada por uma facção rival. Ninguém ficou ferido, mas o piloto decidiu retornar ao heliponto da empresa, no Recreio dos Bandeirantes. Restou ao papai noel voltar de carro até a comunidade para distribuir presentes para as crianças.

É... a coisa não tá fácil pra ninguém... Até Papai Noel tá levando pipoco.

domingo, dezembro 16, 2007

Eu e os botecos da vida


Eu sou um cara que não tenho uma relação muito estreita com bares e botecos.

O primeiro motivo é prosaico: eu não bebo nada de álcool. Bem, para não dizer que eu não bebo naaaada, eu sou chegado a um espumante (de preferência que não seja brütt) que deve ser degustado em ocasiões especiais e gosto de um bom vinho. No entanto, para ter uma idéia da quantidade que eu ingiro estas bebidas, acho que eu não consumiria três garrafas de cada, ao ano.

Mas, voltando aos bares. Eu chego até a ter uma certa inveja de amigos e conhecidos que tratam um boteco como se fosse um templo. Para esses, é o máximo passar a noite inteira sentado, bebemorando, mordiscando petiscos, batendo longos papos ou filosofando, afinal, o bar é o berço das grandes resoluções...

Eu é que não sou muito dessa viagem. Pra começar, quem não bebe cerveja e sempre pede refrigerante para o garçom - como eu -, se sente pouco à vontade. E eu não posso beber o equivalente em refri o que meus amigos bebem em ceva. Alguém, em sã consciência, conseguiria ingerir, em apenas uma noite, 4 litros de pepsi ou guaraná?

Ao meu ver, o bar serve como uma escala, o local de aquecimento para algo mais grandioso ou apoteótico. Tipo, reunir a galera para sair. Um boteco é um bom ponto de reunião para depois se deslocar a uma festa, um show ou outra efeméride. Para mim, o bar é o meio, nunca um fim.
A duração ideal para que eu fique em um bar varia entre uma a duas horas. E deu. Eu não sairia de casa para passar a noite sentado em um bar. Não consigo. E, de quebra, ainda ter que levar pinguço para casa? Sem chance.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

3 Efes


Assisti hoje, no dia do lançamento nacional, o novo filme do cineasta gaúcho Carlos Gerbase, "3 Efes". Gerbase foi meu professor da cadeira de Fundamentos de Cinema na Fabico e um misto de professor, músico (foi vocalista e baterista d'Os Replicantes), jornalista, escritor e multimídia.

E foi justamente nas "múltiplas mídias" que Gerbase resolveu apostar. A novidade é que o diretor decidiu lançar seu novo longa simultaneamente no cinema, televisão a cabo (Canal Brasil e TV Com), internet (Terra) e DVD. Segundo o realizador, a iniciativa procura driblar o complicado esquema de distribuição de filmes de baixo orçamento no Brasil.

O longa concentra-se em alguns dias na vida de poucos personagens cujas maiores necessidades explicam o título - comida, sexo e "fasma", palavra que vem do grego e tem a ver com a vida em sociedade. A protagonista é Sissi (Cris Kessler), uma jovem universitária que trabalha no telemarketing para ajudar o pai viúvo e desempregado. Como nunca tem dinheiro, ela vive com fome. Uma amiga diz que está ganhando muito fazendo programas, e a moça começa a pensar nessa possibilidade para aumentar a renda. Sua tia Martina (Carla Cassapo), cozinheira de mão cheia, também anda desgostosa com a vida. O marido Rogério (Leonardo Machado) mal tem tempo para ela, pois está cheio de problemas na agência de publicidade onde trabalha. A mulher, que faz pratos elaborados, começa a convidar um catador de papel (Paulo Rodrigues) para dividir a refeição. Da mesa para a cama é só um passo. Rogério não sente muita fome, mas o sexo passa a ter um papel fundamental quando é obrigado a virar amante de sua chefe para garantir o emprego.

O elenco é composto, na maioria, por atores novatos, como Cris Kessler (fisicamente é uma mistura de Débora Falabella com Heloisa Perissée) e Paulo Rodrigues. O sotaque é carregadíssimo e o porto-alegrês campeia nos diálogos. A história mescla momentos de humor, sarcasmo e até significativas doses de tensão.

"3 Efes" não é bem um filme de tramas, mas de personagens, que se concentra nas pessoas e em suas jornadas em busca de suas três maiores necessidades. Aos poucos, suas vidas vão se cruzando até chegar a um clímax. Feito com uma equipe pequena, o longa foi filmado com uma câmera mini-DV, o que facilitou a gravação, reduzindo os custos de produção e exibição.

Abaixo, o trailer do filme:

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Que sina!




Sou escolado em trabalhar em lugares que estão sempre passando por dificuldades financeiras ou as pra lá de manjadas "fases de transição".

Na época em que eu estagiei na Rádio da Ufrgs, pairava no ar o fantasma da privatização da universidade pública. Vivíamos a Era Collor e começavam a escassear os recursos para a educação superior. Os orçamentos eram enxutos e os investimentos para a emissora eram rasos. Contratação de pessoal, nem pensar!

Recém-formado em jornalismo, encontrei na Rede Bandeirantes meu primeiro emprego com carteira assinada, oba! Entrei no plantel da Band FM que, na época, empregava 13 jornalistas. Ao mesmo tempo que a emissora foi adquirindo computadores para a redação, o quadro de profissionais foi diminuindo, diminuindo... Vivíamos a famosa fase de "reengenharia". Um belo dia, o diretor da REde, Bira Valdez, reuniu todos os funcionários no estúdio B da TV para anunciar que a "empresa ia bem". Semanas após, houve um "passaralho" (jargão jornalístico que significa demissão em grande escala) e o quadro de 30 jornalistas que trabalhavam nas quatro mídias da empresa (TV, Ipanema e Band AM e Band FM) foi reduzido para menos da metade. Entre os atingidos, estava eu. Foi muito emocionante, a minha primeira demissão. Meses depois, eu estava de volta, mas a Band sempre foi uma corporação muito instável. A gente anoitecia empregado e corria o risco de amanhecer desempregado.

A Caldas Júnior, no tempo que era dirigida pelos Ribeiro, não tinha estresse nenhum. Meu saudoso amigo Clóvis Ott, responsável pela Editoria Internacional do Correio do Povo, dizia que a Cajú era tipo o INSS. Depois de se encostar na empresa, o cara só saía se morresse. O Jornal do Comércio também não. Entretanto, se não havia perigo de ser demitido por qualquer coisa, a empresa também não investia em melhorias. Saí de lá no início de 2003 e o número de computadores que tinham acesso à internet não enchia uma mão. Na minha breve volta, no início deste ano, eu trabalhei em um pc que ainda usava o Windows 98 como sistema operacional...

Os quatro anos que passei no governo do Estado, meu Deus do céu... Era uma choradeira por falta de grana. Faltavam investimentos para o profissional (pelo menos, ao pessoal que realmente queria trabalhar), demoraram 3 anos e meio para trocar toda a rede computadores que estavam uma década defasados, teve um ano em que fomos proibidos de tirarmos férias nos meses de janeiro e fevereiro, havia sempre o fantasma do atraso no 13º salário e o governador sempre falando que o Rio Grande do Sul estava falido...

Que sina, meu Deus!

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Viagens insólitas


Uma das (poucas) coisas que eu sinto saudades dos tempos quando eu trabalhava no Palácio Piratini eram as viagens. Percorri muitas cidades pelo Rio Grande do Sul afora e que, certamente, se não fosse por trabalho, dificilmente eu conseguiria ter conhecido aqueles municípios.


E foram vários. Acho que uns 50, num cálculo baixo. Muito em função das tais interiorizações, que era a transferência do gabinete do governador para uma cidade do interior. Geralmente isso acontecia 1 ou 2 vezes por mês.


Em alguns lugares, passei calorões mormacentos. Em outros, frios de congelar as orelhas. A situação é que a viagem, em si, é que era relaxante, pelo menos para mim. Era o momento em que eu saía daquele ambiente sufocador que era o prédio do palácio. Ainda mais o lugar onde eu trabalhava - eu coordenava o estúdio de rádio, um lugar sem ventilação, sem janelas, que se entrava para lá e se perdia a noção se era dia ou noite, se lá fora fazia tempo bom ou ruim, se o mundo tinha acabado ou não. Fora os perrengues que eu tinha que administrar junto aos colegas e meus "subordinados".


Viajar para uma outra cidade, por menor que fosse, era uma sensação de liberdade, de deixar para trás aquela gente falsa e hipócrita e entrar em um mundo desconhecido por mim em meu próprio Estado.


O mais divertido dessas viagens eram as próprias viagens. Carros e vans que estragavam, tempestades que a gente pegava no meio do caminho, motorista que errava de estrada, viagens que duravam cinco, seis até sete horas, almoços em restaurantes em pleno meio de mato, hospedagem em hotéis sofisticados e pousadas rústicas, noites mal-dormidas, atrasos na ida e na volta, chegada em Porto Alegre em plena madrugada e muito, mas muito trabalho mesmo.


No último ano de governo eu parei de viajar, por opção própria, e por várias razões. As diárias pagas eram ridículas. Para pernoitar em uma cidade, tipo, chegar numa quinta de tarde para ir embora 24 horas depois, a gente ganhava cerca de R$ 75, que eram ressarcidos uns 10 dias DEPOIS da apresentação da nota que comprovasse o afastamento.


Outro motivo foi porque enquanto eu viajava, o estúdio virava uma gandaia. O pessoal do setor brigava e se discutia uns com os outros, fulano chegava tarde para trabalhar e saía cedo (acreditem: tinha gente que nestes dias nem apareciam no palácio), se eu ligasse pro estúdio para pedir alguma coisa o telefone chamava, chamava e ninguém atendia porque estava todo mundo em outros lugares. A galera achava que pelo fato do governador estar em outra cidade, meio que virava ponto facultativo. É, amigo, repartição pública estadual é isso aí... Eu reclamava, mas de que adiantava? Nunca dava nada...


Mas o brabo mesmo era o estresse para se conseguir um carro (e um motorista) para a viagem. Uma determinação ridícula de Sua Excelência, o governador (ou de seus respectivos aspones, que não eram poucos) orientava que "o governador não queria ver tanto carro oficial na volta dele". Logo, os setores da assessoria de imprensa (rádio, tv, foto, editoria do interior) tinham que ir em apenas 1 (e somente 1) carro. Várias vezes eu ia pros fim-de-mundo e tinha que pedir carona para os colegas de outras secretarias porque o carro que nos levava tinha que levar a galera que ia acompanhar o governador em outros compromissos. Ou seja, se a gente quisesse voltar para Porto Alegre (casa) tinha que arranjar carona, no melhor estilo "se virem". E eu, que aprendi a ser organizado (até porque sempre me foi exigido muita organização), cansei dessa palhaçada. Se era para me incomodar, que eu me incomodasse só em Porto Alegre.


A foto que ilustra esse tópico foi clicada em março de 2005, tendo ao fundo o castelo da família Assis Brasil, em Pedras Altas, cidade localizada a uns 300 km de Poa. Outra hora eu conto como foi essa viagem. Tem histórias hilárias...hehehe. Aguardem!