segunda-feira, dezembro 03, 2007

Viagens insólitas


Uma das (poucas) coisas que eu sinto saudades dos tempos quando eu trabalhava no Palácio Piratini eram as viagens. Percorri muitas cidades pelo Rio Grande do Sul afora e que, certamente, se não fosse por trabalho, dificilmente eu conseguiria ter conhecido aqueles municípios.


E foram vários. Acho que uns 50, num cálculo baixo. Muito em função das tais interiorizações, que era a transferência do gabinete do governador para uma cidade do interior. Geralmente isso acontecia 1 ou 2 vezes por mês.


Em alguns lugares, passei calorões mormacentos. Em outros, frios de congelar as orelhas. A situação é que a viagem, em si, é que era relaxante, pelo menos para mim. Era o momento em que eu saía daquele ambiente sufocador que era o prédio do palácio. Ainda mais o lugar onde eu trabalhava - eu coordenava o estúdio de rádio, um lugar sem ventilação, sem janelas, que se entrava para lá e se perdia a noção se era dia ou noite, se lá fora fazia tempo bom ou ruim, se o mundo tinha acabado ou não. Fora os perrengues que eu tinha que administrar junto aos colegas e meus "subordinados".


Viajar para uma outra cidade, por menor que fosse, era uma sensação de liberdade, de deixar para trás aquela gente falsa e hipócrita e entrar em um mundo desconhecido por mim em meu próprio Estado.


O mais divertido dessas viagens eram as próprias viagens. Carros e vans que estragavam, tempestades que a gente pegava no meio do caminho, motorista que errava de estrada, viagens que duravam cinco, seis até sete horas, almoços em restaurantes em pleno meio de mato, hospedagem em hotéis sofisticados e pousadas rústicas, noites mal-dormidas, atrasos na ida e na volta, chegada em Porto Alegre em plena madrugada e muito, mas muito trabalho mesmo.


No último ano de governo eu parei de viajar, por opção própria, e por várias razões. As diárias pagas eram ridículas. Para pernoitar em uma cidade, tipo, chegar numa quinta de tarde para ir embora 24 horas depois, a gente ganhava cerca de R$ 75, que eram ressarcidos uns 10 dias DEPOIS da apresentação da nota que comprovasse o afastamento.


Outro motivo foi porque enquanto eu viajava, o estúdio virava uma gandaia. O pessoal do setor brigava e se discutia uns com os outros, fulano chegava tarde para trabalhar e saía cedo (acreditem: tinha gente que nestes dias nem apareciam no palácio), se eu ligasse pro estúdio para pedir alguma coisa o telefone chamava, chamava e ninguém atendia porque estava todo mundo em outros lugares. A galera achava que pelo fato do governador estar em outra cidade, meio que virava ponto facultativo. É, amigo, repartição pública estadual é isso aí... Eu reclamava, mas de que adiantava? Nunca dava nada...


Mas o brabo mesmo era o estresse para se conseguir um carro (e um motorista) para a viagem. Uma determinação ridícula de Sua Excelência, o governador (ou de seus respectivos aspones, que não eram poucos) orientava que "o governador não queria ver tanto carro oficial na volta dele". Logo, os setores da assessoria de imprensa (rádio, tv, foto, editoria do interior) tinham que ir em apenas 1 (e somente 1) carro. Várias vezes eu ia pros fim-de-mundo e tinha que pedir carona para os colegas de outras secretarias porque o carro que nos levava tinha que levar a galera que ia acompanhar o governador em outros compromissos. Ou seja, se a gente quisesse voltar para Porto Alegre (casa) tinha que arranjar carona, no melhor estilo "se virem". E eu, que aprendi a ser organizado (até porque sempre me foi exigido muita organização), cansei dessa palhaçada. Se era para me incomodar, que eu me incomodasse só em Porto Alegre.


A foto que ilustra esse tópico foi clicada em março de 2005, tendo ao fundo o castelo da família Assis Brasil, em Pedras Altas, cidade localizada a uns 300 km de Poa. Outra hora eu conto como foi essa viagem. Tem histórias hilárias...hehehe. Aguardem!

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