terça-feira, janeiro 29, 2008

As escolas de samba vêm do tempo de Dom João Charuto

O post de hoje eu pedi emprestado ao grande escritor, compositor e sambista brasileiro Nei Lopes e está no blog dele, o Meu Lote, que inclusive consta na minha lista de favoritos. Ele recupera as origens do carnaval brasileiro, além da gênese na Roma Antiga, informando também o nascedouro da folia na África e nas Antilhas. E eu, singelamente, acrescento, ao final, as origens da folia alegre-portense. Aí vai...

Os historiadores do carnaval brasileiro costumam ver suas origens remotas na Roma antiga, como contou a Beija-Flor, há alguns anos. Mas o fato é que os festejos, embora atrelados ao calendário católico, têm também, sob alguns aspectos, raízes na África negra, encontrando similares em várias culturas africanas. Em Gana, por exemplo, entre os povos Akan (fantis e axantis) é comum a realização de um grande festival anual, o odwira, seguido de um longo período de recolhimento e abstinência, como na quaresma. Certamente devido a essa similitude, as celebrações carnavalescas nas Américas devem sua alegria e seu brilho, fundamentalmente, à música dos afro-descendentes. Assim foi e é nos ranchos carnavalescos, escolas de samba, afoxés, blocos-afro etc, no Brasil; no candombe platino; nas comparsas cubanas; no mardigras, nas Antilhas e em New Orleans.

Nas Antilhas, o carnaval foi introduzido pelos católicos franceses, que costumavam estendê-lo por um bom tempo antes de enfrentarem os rigores da quaresma, sendo que, na Martinica, o costume foi adotado por volta de 1640. Isolados pela sociedade dominante, os escravos uniram-se para celebrar o carnaval à sua moda, com a música e a dança de sua tradição, introduzindo, na festa européia, além de seus instrumentos, suas crenças e seu modo de ser. As festividades do carnaval martiniquenho, o kannaval, expressam-se em um peculiar estado de espírito, transmitido de geração a geração. A cidade de Saint Pierre foi, durante muito tempo, o ponto culminante da festa na ilha, tendo sua fama se estendido por todo o Caribe, atraindo a cada ano milhares de visitantes de todo o mundo.

Depois da devastadora erupção vulcânica de 1808, a tradição carnavalesca reviveu em Fort-de-France, a nova capital, onde, hoje, os preparativos têm início na epifania, em meados de janeiro, quando o povo começa a se animar, e se estendem até a quarta-feira de cinzas. Durante esse período e no carnaval propriamente dito, a cada domingo, grupos fantasiados saem às ruas, em trajes variados: casacos velhos, trajes fora de moda, chapéus rasgados, bem como fantasias brilhantes e coloridas de arlequim, pierrôs e diabos. As máscaras também têm lugar destacado na festa. E além das que homenageiam ou criticam personalidades do momento, como artistas, políticos etc, há as relacionadas à morte, cheias de simbologias africanas -- das quais Aimé Césaire encontrou o significado em rituais da região de Casamance, no norte do Senegal (cf. Alain Eloise). No Haiti, de um modo geral, o carnaval é celebrado dentro desse mesmo espírito e com traços semelhantes aos carnavais do Brasil, de Trinidad e da Louisiana. Em Port-au-Prince, o visitante vai encontrar os mesmos desfiles, festas e fantasias criativas que se vêem nesses lugares.

No Brasil, desde pelo menos o início do Século XIX, a participação do povo negro nos folguedos carnavalescos sempre foi marcada por uma atitude de resistência, passiva ou ativa, à opressão das classes dominantes. Proibidos por lei de, no entrudo, revidarem aos ataques dos brancos, africanos e crioulos procuravam outras maneiras de brincar. Tanto assim que Debret, entre 1816 e 1831, flagrava uma interessante cena de carnaval em que um grupo de negros, fantasiados de velhos europeus e caricaturando-lhes os gestos, fazia sua festa, zombando dos opressores e criando, sem o saber, os cordões de velhos, de tanto sucesso no início do século XX.

Entre 1892 e 1900 surgem no carnaval baiano, pela ordem, a “Embaixada Africana”, os “Pândegos D’África”, a “Chegada Africana” e os “Guerreiros D’África”, apresentando-se em forma de préstitos constituídos única e exclusivamente de negros. Essa modalidade carnavalesca (“a exibição de costumes africanos com batuques”) é proibida em 1905 na Bahia. Exatos dois anos depois, surge no Rio de Janeiro o rancho carnavalesco “Ameno Resedá” que, pretendendo “sair do africanismo orientador dos cordões” (cf. Jota Efegê) conquista, com seus enredos operísticos, um espaço importante para os negros no carnaval carioca, cimentando a estrada por onde, mais tarde, viriam as escolas de samba.

Mas a gênese do carnaval negro brasileiro, o dos cortejos que gerararam as escolas de samba, talvez esteja mesmo é em 1808, no Rio, quando das festas em homenagem à família real que aqui chegava. Vejamos esta descrição dos viajantes John e William Robertson, transcrita no precioso livro de, Mary C. Karasch “A vida dos escravos no Rio de Janeiro; 1808-1850” ( Companhia das Letras, 2000):

“Em frente avançavam os grupos das várias nações africanas, para o campo de Sant’Anna, o teatro de destino da festança e da algazarra. Ali estavam os nativos de Moçambique e Quilumana, de Cabinda, Luanda, Benguela e Angola [...]
“A densa população do campo de Sant’Anna estava subdividida em círculos amplos, formados cada um por trezentos a quatrocentos negros, homens e mulheres.
“Dentro desses círculos, os dançarinos moviam-se ao som da música que também estava ali estacionada; e não sei qual a mais admirável, se a energia dos dançarinos, ou a dos músicos. Podiam-se ver as bochechas de um atleta de Angola prontas a arrebentar pelo esforço de produzir um som hediondo de uma cabaça, enquanto outro executante dava golpes tão abundantes e pesados no tímpano que somente a natureza impenetrável do couro de um boi poderia resistir-lhes. Um mestre-de-cerimônias, vestido como um curandeiro, dirigia a dança; mas era para estimular, não para refrear, a alegria turbulenta que prevalecia com supremo domínio. Oito ou dez figurantes iam e vinham no meio do círculo, de forma a exibir a divina compleição humana em todas as variedades concebíveis de contorções e gesticulações. Logo, dois ou três que estavam no meio da multidão pareciam achar que a animação não era suficiente, e com um grito agudo ou uma canção, corriam para entro do círculo e entravam na dança. Os músicos tocavam uma música mais alta e mais destoante; os dançarinos, reforçados pelos auxiliares mencionados, ganhavam nova animação; os auxiliares pareciam envoltos em todo o furor de demônios; os gritos de aprovação e as palmas redobravam; cada observador participava do espírito sibilino que animava os dançarinos e os músicos; o firmamento ressoava com o entusiasmo selvagem das clãs negras [...]”

Que tal? Digam se não parece que foi aí que nasceram o diretor-de-harmonia, a bateria, as pastoras. Hein?


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E a partir daqui, eu falo um pouco da história do carnaval de Porto Alegre.

O carnaval de Porto Alegre teve origem no século XVIII com o entrudo, brincadeira trazida pelos açorianos, na qual as pessoas atiravam umas nas outras limões (uma bola de cera do tamanho de um limão, cheia de perfume), e havia casos em que se atiravam ovos e farinha nas "vítimas". No século XIX, o entrudo deu lugar às Sociedades Carnavalescas.

A Esmeralda (verde e branco) e os Venezianos (vermelho e branco) mudaram e dominaram o carnaval nessa época, em torno de larga rivalidade entre ambas. Houve um tempo de grandes bailes no Theatro São Pedro. Quem não freqüentava os salões partia para a Cidade Baixa, Menino Deus, Azenha ou bairro Santana, onde a diversão era garantida. As variadas fantasias só dependiam da imaginação dos foliões. Os homens adoravam se vestir de mulher, sendo ajudados pelas esposas, mães ou irmãs.

Blocos, ranchos, cordões de sociedade e tribos carnavalescas foram as primeiras grandes atrações de nossos desfiles, até que surgisse, por volta de 1960, as primeiras Escolas de Samba. Os primeiros desfiles oficiais foram realizados na Av. Borges de Medeiros, e anos depois, na Avenida João Pessoa (1969-1975), depois na Avenida Loureiro da Silva, a Perimetral (1976-1987)) e Avenida Augusto de Carvalho (1988-2003). A partir de 2004, os desfiles se transferiram para o sambódromo no Complexo Cultural Porto Seco. Uma obra destinada para ter a maior e mais moderna pista de desfiles do país, investimento do poder público municipal para o carnaval da Grande Porto Alegre.

Tantos carnavais...
O corso, desfile de carros alegóricos pelas ruas de Porto Alegre, marcava uma festa vivenciada pela camada mais abastada da população.
A muamba é uma atração porto-alegrense, exclusiva dos gaúchos. Esse evento era realizado bem antes do carnaval, pois era uma maneira de arrecadar dinheiro para as festas e fantasias. Ocorria em diversos pontos da cidade, geralmente o pavilhão da escola era carregado aberto e as pessoas jogavam moedas ali.

As tribos carnavalescas foram uma atração à parte nos desfiles locais e eram em torno de 15 grupos, hoje restam apenas duas: Os Comanches e Os Guaianazes.

As bandas eram comuns na época e alegravam muito o povo nas ruas. Nomes como: "Por Causa de Quê", "Filhos da Candinha", "Comigo Ninguém Pode", "Banda DK" foram desaparecendo, levando com elas uma animação que deixou muita saudade. Algumas viraram escolas de samba.


domingo, janeiro 27, 2008

E vamos novamente para mais um carnaval


Estarei nos dias 1º, 2 e 3 de fevereiro participando da transmissão dos desfiles das escolas de samba de Porto Alegre pela Rádio Guaíba AM - 720 khz. As transmissões começarão sempre por volta das 21 horas. Quem quiser prestigiar o nosso trabalho, será um prazer tê-los na audiência.

Ontem, acompanhamos a Muamba oficial de POA, uma pequena prévia do que será o desfile da próxima semana. E, entre tantas personalidades que estiveram na cabine da emissora, recebemos a visita do Rei Momo Frota Jr e das três beldades que compõem a corte do carnaval da cidade: Joselaine de Jesus (2ª princesa), Letícia Costa (1ª princesa) e Emily Ribeiro (rainha).


Ah, o casaco é porque apesar dos 25 graus que fazia lá no Porto Seco, o vento que sopra por lá é bem rigoroso e quem não se agasalhar acaba batendo queixo de frio. Eu, já bastante cancheiro, pus uma jaquetinha jeans...hehehehe

sábado, janeiro 05, 2008

Envelheço na cidade, feliz aniversário

Estou de aniversário. Envelheço na cidade. Três ponto oito. Chegou a me impressionar. Fosse um tempo atrás, eu diria "tudo isso?". Mas estou bem assim, cheio de amor para dar e com muita vontade de aprender coisas e conhecer mais coisas ainda.

E, em homenagem a mim (hehehe), vamos relembrar esse clássico do Ira, - uma das minhas bandas favoritas - composto pelo guitarrista Edgard Scandurra, lá no longínquo ano de 1985.



Mais um ano que se passa
Mais um ano sem você
Já não tenho a mesma idade
Envelheço na cidade
Essa vida é jogo rápido
Para mim ou pra você
Mais um ano que se passa
Eu não sei o que fazer

Juventude se abraça
Se une pra esquecer
Um feliz aniversário
Para mim ou pra você

Feliz aniversário
Envelheço na cidade
(3x)

Feliz aniversário!...

Meus amigos, minha rua
As garotas da minha rua
Não os sinto, não os tenho
Mais um ano sem você
As garotas desfilando
Os rapazes a beber
Já não tenho a mesma idade
Não pertenço a ninguém

Juventude se abraça
Se une pra esquecer
Um feliz aniversário
Para mim ou pra você

Feliz aniversário
Envelheço na cidade
(3x)

Feliz aniversário!
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá...
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá...

Juventude se abraça
Se une pra esquecer
Um feliz aniversário
Para mim ou pra você

Feliz aniversário
Envelheço na cidade
(4x)

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Tudo é tudo e nada é nada


Estou lendo e recomendo o livro "Vale tudo - O som e a fúria de Tim Maia", de Nelson Motta, pela Editora Objetiva. Com um texto talentoso e fluente, Motta parece que esteve sempre ao lado de Tim durante os 55 anos (1942-1998) que o síndico doidão da MPB viveu. Estou devorando o livro e me divertindo com as passagens da vida do Sebastião Rodrigues Maia, um dos artistas mais magníficos que o Brasil já teve. Mas nem só de glamour vivia Tim. A biografia revela os problemas com drogas, a deportação dos Estados Unidos, as neurosas, o gênio difícil, o envolvimento com a seita Universo em Desencanto (que gerou os discos Tim Maia Racional Vol. 1 e Vol. 2) e a inclinação que o cantor tinha para aplicar o "171", já que pagava músicos e comprava carros, instrumentos musicais e imóveis com monumentais cheques sem fundo.




Abaixo, recolhido do You Tube, uma síntese do pensamento Maia, pelo próprio.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Vai começar tudo de novo


Então tá, né? Vamos lá encarar 2008...

Quarta-feira de ressaca, após três dias em Rainha do Mar, revéillon na praia, calorão intenso, muito banho de mar e ardência na pele após ter torrado no sol sem a devida proteção do filtro solar.

Mas valeu a pena. Tudo foi festa para quem, depois de dois anos, nem chegou perto da orla marítima gaúcha.

E o melhor de tudo: semaninha curta e a quarta-feira com maior cara de segunda. É hoje, amanhã e depois de amanhã já é sexta-feira e mais um fim de semana.

E ainda é tempo de desejar: muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender.

Feliz ano novo, meu povo!