sexta-feira, março 14, 2008

Não ao rodízio!


Estamos em 2008, ano eleitoral e de propostas eleitoreiras. A mais nova idéia de jerico da cidade é um projeto que está sendo discutido na Câmara de Vereadores que propõe a adoção de rodízio de automóveis em Porto Alegre.

O projeto, idealizado por um vereador, até que é dotada de boa intenção: propõe um revezamento de veículos num raio de 15 quilômetros a partir do centro da Capital entre segunda e sexta-feira a fim de reduzir os engarrafamentos na cidade. Medida semelhante já existe há mais de 10 anos em São Paulo.

Sabiamente, a prefeitura afirma que não adotará revezamento.

Ora, comparar a realidade do trânsito de São Paulo com Porto Alegre com São Paulo é um desvario. Aqui não há a frota de veículos que tem a terra da garoa. A capital paulista adota o rodízio desde 1997 e tem uma frota de 6 milhões de veículos. O índice é 10 vezes maior do que os 591 mil registrados pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran) em dezembro na capital gaúcha.

E de mais a mais, quem seria atingido pela medida? Nós, motoristas particulares, já que veículos de carga, transporte coletivo e escolar, táxis, motos, guinchos e ambulâncias não fariam parte do projeto, assim como acredito que os veículos oficiais também não.

Numa leitura mais aprofundada, percebe-se que o projeto lembra aquela piada de que se um paciente vai ao dentista com dor de dente, o médico prefere arrancar o dente para que não sinta mais dor, ao invés de tratá-lo.

Quais seriam as soluções, além (obviamente) de qualificar o transporte coletivo? Que tal começar por uma varredura nos milhares de carros que circulam irregulares pela cidade?Quantos automóveis circulam pela cidade sem que os documentos estejam em dia? Quantos motoristas dirigem sem estarem habilitados (sei de gente que não tem nem certidão de nascimento, o que dirá carteira de motorista)? E os DKWs, kombis, brasílias e caminhonetes detonadas que rodam por aí impunemente sem cinto de segurança, faróis queimados e com os pneus carecas oferecendo serviços de fretes e carretos na frente dos supermercados e armarinhos? E os condutores que circulam por aí com os pontos estourados na habilitação? E as carroças que atravancam as grandes avenidas a qualquer hora do dia?

Propor rodízio de carros é muito simples, afinal, é mais fácil proibir do que educar ou realmente atacar os problemas que interessam. Além do que, o projeto não resolve definitivamente o problema. Quem é dependente de automóvel e - principalmente - tem condições financeiras, é capaz até de comprar outro carro para fugir do rodízio.

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