segunda-feira, maio 18, 2009

Cotas...mais uma vez (dá-lhe, Zulu!)


Estou impressionado com o número elevado de artigos que atualmente pululam em jornais, revistas, sites e outras publicações de autoria de "gentes" se manifestando contra as cotas e outras ações afirmativas. Questionam e criticam a adoção destas ações, ora invocando uma suposta inconstitucionalidade, ora querendo substituir por "cotas sociais", que segundo afirmam, seriam "mais justas".

Pois o presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, elaborou um belo texto, intitulado Cotas, mentiras e videotapes!, em resposta à inteligentzia, aos filhos bem criados da classe média e até mesmo a afrodescendentes que querem se celebrizar ao se mostrar contrários às ações compensatórias. Pena que alguns jornais/revistas não tivessem coragem de publicá-lo. Porém, o Blog du Brisa - que adora uma polêmica - reproduz, na íntegra, o texto publicado originalmente na Revista Raça Brasil nº 132.

Cotas, mentiras e videoteipes!
por Zulu Araújo, presidente da Fundação Cultural Palmares / Ministério da Cultura

Os ataques partiram de todos os lados (emissoras de televisão e rádio, jornais, blogs). Não importa que a proposta tenha sido mitigada por critérios sociais na Câmara dos Deputados e que as pesquisas apontem o sucesso onde elas foram implantadas. "Somos contra", afirmaram em uníssono os representantes da maior frente política articulada contra a promoção da igualdade no Brasil.

Enfim, as máscaras caíram. Nenhuma proposta ou alternativa é apresentada. São contra tudo que signifique promoção da igualdade neste país (bolsa-família, cesta básica, demarcação das terras indígenas... ). Desta vez fulanizada em opiniões absolutamente díspares e caricatas, ora pela boca de eminentes antropólogos, sociólogos ou jornalistas, ora por filhos bem criados da nossa classe média privilegiada e de vez em quando por afrodescendentes ávidos pelos 15 minutos de fama, repetiram a ladainha de sempre: As cotas não resolvem o problema da desigualdade racial no ensino, excluem o mérito do processo seletivo, racializam as relações na sociedade brasileira.

Em sua sanha destrutiva foram mais além. Um renomado cientista fez a seguinte afirmação na revista Época (n° 568): "A escravidão é uma coisa horrorosa que aconteceu há mais de 200 anos. Quem é que tem de pagar por isso hoje? O imigrante italiano?" Para este cidadão, quem deve continuar pagando a conta somos nós, que fomos escravizados. Quer algo mais explicito? Pela lógica deste cidadão, os palestinos também poderiam construir a seguinte frase: "A expulsão dos judeus da sua terra natal foi horrorosa, por que passados mais de 2000 anos nós é que temos de pagar a conta? Cômico, senão trágico, se a vida fosse tão simples assim.

Vale a pena lembrar aqui que foi a Organização das Nações Unidas(ONU), da qual o Brasil é membro, que estabeleceu a reparação como mecanismo compensatório à escravidão, reconhecida como crime de lesa-humanidade.

Mentiras - Vale tudo para desconstruir esta pequena possibilidade de reparação da imensa dívida que este país possui para com quase metade de sua população. Escondem-se as pesquisas, os números e a secular exclusão dos afro-brasileiros da educação, do mercado de trabalho, da mídia e de tudo que signifique poder real neste país. Mente-se de forma despudorada. Mistificam-se opiniões isoladas e omitem-se as conseqüências crueis dos anos de escravidão e discriminação racial.

Tudo isto, para que os privilégios sejam justificados em nome de uma meritocracia fajuta, pois está mais do que comprovado que o sistema seletivo atual não avalia mérito algum. Mentem quando afirmam que as cotas raciais são o problema. Querem que tudo continue do jeito que está sob a justificativa de que somos um país pacifico, com um povo ordeiro e mestiço, que nunca viveu os horrores da discriminação e do racismo. Só faltam dizer que a escravidão foi boa para os africanos, pois afinal lhes deram uma religião, bons modos e acesso a uma nova civilização. Nas inúmeras matérias, entrevistas, artigos e editoriais, os representantes dos quase dois terços da população que é favorável às cotas são solenemente ignorados. É um verdadeiro massacre midiático. Seguramente o mais longo e bem articulado dos últimos 20 anos.

Vídeoteipe - Nos últimos ataques, os porta-vozes da elite brasileira revelam bem mais que uma discordância com as ações afirmativas. Avançam para o terreno da defesa pura e simples do direito ao privilégio para uma minoria bem nascida e bem nutrida. Nenhuma política que vise alterar o status quo vigente é correta. É como se todas elas estivessem impregnadas do veneno mortal da igualdade. Sonham de olhos bem abertos com o retorno ao passado, como se a vida pudesse ter remake ou vídeoteipe. É como se houvesse uma determinação divina para que o acesso à universidade, aos melhores empregos, aos cargos de direção do país e às nossas melhores terras sejam exclusivamente dos mesmos que ao longo dos últimos quinhentos anos se locupletaram com as riquezas de nossa nação ao custo da escravização, da exclusão e da discriminação da maioria do povo brasileiro. Ainda bem que os homens e mulheres de boa vontade são a maioria deste país e cada vez mais conscientes de que o Brasil só será uma democracia de fato e de direito quando a fraternidade, justiça e igualdade for para todos. Vamos à luta !

Toca a zabumba que a terra é nossa !

Falou e disse, Zulu!

segunda-feira, maio 04, 2009

Profissão

 Moyséis Marques - Profissão




Profissão

(Luiz Carlos da Vila - Sereno - André Renato)
Canta: Moysés Marques

Acrredito que Deus
Me fez um varredor
Pra jogar fora os meus
Infortúnios do amor
Se me fez bacharel
Valeu, meu Deus do Céu
Já tenho defesa pras peças que a vida pregou

Se eu trabalho pra mim
Aí é que eu me dou
E aprendo assim
A ser bom professor
Se o mau tempo me vem
Sorrio e digo amém
Um dia após outro dia o vento levou

Se ele quer um maestro
Eu sigo no gesto e orquestro com a mão
Dando, tirando, buscando
O comando que for o melhor pra canção
Quando eu fui o bombeiro
Eu fui o primeiro que a chama apagou
Aceso solidário coração

Se eu for requisitado
Pra ser deputado ou vereador
Eu vou lutar para honrar
E fazer jus ao voto do meu eleitor
E se eu vier marinheiro
Um bom brasileiro acerto a maré
Eu sou da profissão de amor e fé