terça-feira, novembro 20, 2012

A tal da "Consciência Negra"...


Quando te disserem que você quer dividir o Brasil em “pretos” e “brancos”, mostre que essa divisão sempre existiu. Se insistirem na acusação, mostre que, neste país, 124 anos após a Abolição, em todas as instâncias, o Poder é sempre branco. Até mesmo como técnicos de futebol ou carnavalescos de escolas de samba, os negros só aparecem como exceção. 

Quando te disserem que o Brasil é um país mestiço, concorde. Mas ressalve que essa mestiçagem só ocorre, com naturalidade, na base da pirâmide social, e nunca nas altas esferas do Poder.

Quando te jogarem na cara a afirmação de que a África também teve escravidão, ensine a eles a diferença entre “servidão” e “cativeiro”. Mostre que a escravidão tradicional africana tinha as mesmas características da instituição em outras partes do mundo, principalmente numa época em que essa era a forma usual de exploração da força de trabalho. O bom escravo podia casar na família do seu senhor, e até tornar-se herdeiro. E assim, se, por exemplo, no século XVII, Zumbi dos Palmares teve escravos, como parece certo, foi exatamente dentro desse contexto histórico e social.

Se ainda insistirem, responda que embora africanos também tenham vendido africanos como escravos, a África não ganhou nada com o escravismo, muito pelo contrário. Mas a Europa, esta sim, deu o seu grande salto, assumindo o protagonismo mundial, graças ao capital que acumulou com a escravidão africana.

Quando, de dedo em riste, te disserem que cotas raciais são uma forma de preconceito e que o certo seriam "cotas sociais", responda que praticamente todos os segmentos sociais já foram beneficiados com cotas: filhos de fazendeiros, militares, mulheres, idosos, deficientes físicos, etc. Depois questione ao seu interlocutor a razão pela qual quando o afro-descendente reivindica a sua ação afirmativa esta lhes é negada.

Quando te questionarem por que consciência negra, "se não há uma consciência branca, judia, nipônica, selenita, helênica, marciana", tenha a pachorra de responder que - parafraseando Leopold Senghor – não é racismo ou complexo de inferioridade e, sim, um anseio legitimo de expansão e crescimento. Não é separatismo, segregacionismo, ressentimento, ódio ou desprezo pelos outros grupos que constituem a Nação brasileira.

Consciência Negra somos nós, em nossa real dimensão de seres humanos, sabendo claramente o que somos, de onde viemos e para onde vamos, interagindo, de igual pra igual, com todos os outros seres humanos, em busca de um futuro de força, paz, estabilidade e desenvolvimento. Fui claro?

Meu muito obrigado a Nei Lopes e ao Comitê Científico Internacional da UNESCO para Redação da História Geral da África.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom seu blog, parabéns!