Demissões no mercado de trabalho acontecem. Principalmente na iniciativa privada. É normal de acontecer, são comuns e até certo modo são previsíveis. Mas há maneiras e maneiras.
Fui
demitido em janeiro de 2021 da empresa que trabalhei durante 10 anos já que não
supri as expectativas da instituição, que esperava que eu executasse a função
de quatro pessoas ao mesmo tempo (jornalista, roteirista, apresentador, produtor).
No mundo corporativo eles utilizam um termo em inglês bonitinho o famoso hands on, que não significa fazer o trabalho de outras pessoas, mas no Brasil serve para justificar a sua sobrecarga de trabalho. Um belo dia, fazendo um relatório sobre minhas funções fiquei impressionado sobre o volume de trabalho que fiz em menos de um ano. Sozinho, eu havia feito o trabalho de quatro profissionais. Detalhe: quando comecei a trabalhar no setor, havia cinco jornalistas. Um a um, os colegas foram saindo, por demissão ou por vontade própria.
Eu fui permanecendo no emprego e no setor,
porém, o quadro funcional não foi sendo reposto ou ampliado. As vagas não foram
preenchidas, e as funções iam sendo distribuídas para os profissionais que
permaneciam trabalhando no setor. Até que o quadro foi reduzindo, reduzindo,
reduzindo, até sobrar o caboclo aqui. No início, só me restava dar conta, na
medida do possível. Só que o grau de exigência para um indivíduo era como se
fosse para uma equipe. Por dois anos e meio escutei a promessa por parte da
minha chefa de que ela não estava poupando esforços para negociar junto à
direção da empresa novas contratações para o setor. Dois anos e meio. Adivinhem
se houve aumento de salário para o profissional que sobrou no setor...
Quando
você faz o seu trabalho e de mais outras pessoas, você precisa delegar, você
precisa de pessoas para ajudar, que na maioria das vezes estão esperando o
mundo acabar em barranco para se escorar essa é a verdade do mundo
corporativo, o problema é que nem todo mundo está na mesma sintonia.
Por
coincidência (ou não), meses antes da minha demissão eu mencionei em relatório para
a líder do setor que eu estava fazendo sozinho ʺa função de vários profissionaisʺ, tendo ainda que ser
ʺcriativo, rápido,
talentoso e eficienteʺ.
A chefa me encheu de desculpas colocando, claro, a culpa na empresa, que não
contratava, mas que ela via o meu esforço profissional e que ʺnão estava medindo
esforçosʺ para tentar ampliar
a equipe.
Quando
eu pensei que iriam me aliviar o volume de trabalho (que já era cavalar), qual
minha surpresa? A cada dia eu recebia MAIS TRABALHO AINDA, com cobranças e
exigências diárias, algumas até virulentas. Fora a participação de aspones que vivem
puxando o saco da chefia.
Falando
em chefia, casualmente ou não o grau de cobrança exigido a mim passou a ser
maior quando assumiu um diretor vindo de terra distante querendo mudar toda a
estrutura do setor. Por exigência do tal diretor, tivemos que nos mudar de
prédio e ele quis o término do trabalho em home
office (estávamos em plena pandemia e sequer havia iniciado a aplicação da
primeira dose da vacina contra a Covid-19 no Brasil). Meus gestores
passivamente e incontestes tal qual vaquinhas de presépio aderiram de primeira
hora às ideias do cara que mal conhecia Porto Alegre nem a realidade da instituição.
Um
belo dia, após um período ensandecido de trabalho e de finalmente ter batido a
meta, fui chamado à salinha da chefa e fui comunicado de que meus serviços
estavam sendo dispensados naquele momento.
Respeito
muito todos os profissionais que trabalhei, mas me respeito muito mais, e sinto
bastante a falta de respeito com que fui tratado. Me chamaram para me demitir às
nove da manhã, na volta das férias obrigatórias de final de ano (aquele período
que abrange a semana anterior ao Natal e vai até a semana posterior ao Ano
Novo). Eu iria pedir para a minha chefa para sair um pouco mais cedo para uma
consulta médica. Dificilmente eu saía no meio do trabalho para esse tipo de
coisa. Nem atestado eu apresentava. Perdi as contas de quantas vezes fui
trabalhar doente, febril, e com a saúde descontada. Quando entrei na salinha notei
que ao lado da minha chefa estava a encomendada do RH. ʺSenta aíʺ, disse a chefia.
Entendi tudo. Era só somar 2 + 2. Ao sentar, senti que estava na rua.
De
certa forma, não fiquei surpreso com a demissão, mas com a forma. Ironicamente,
o diretor vindo de terra distante que chegou para revolucionar o setor foi
mandado embora poucas semanas depois de mim. Os colegas, arrancados do home office,
por ordem da direção suprema da empresa, voltaram a trabalhar de casa.
Mas
sabe a minha tranquilidade? Conheço o incrível profissional que eu sou. Sei o
que estudei, ralei, sofri, trabalhei para chegar onde estou. Sei do meu valor.
A instituição não me merecia.