quarta-feira, julho 27, 2022

Sim, fui demitido!

 Demissões no mercado de trabalho acontecem. Principalmente na iniciativa privada. É normal de acontecer, são comuns e até certo modo são previsíveis. Mas há maneiras e maneiras.


Fui demitido em janeiro de 2021 da empresa que trabalhei durante 10 anos já que não supri as expectativas da instituição, que esperava que eu executasse a função de quatro pessoas ao mesmo tempo (jornalista, roteirista, apresentador, produtor).

No mundo corporativo eles utilizam um termo em inglês bonitinho o famoso hands on, que não significa fazer o trabalho de outras pessoas, mas no Brasil serve para justificar a sua sobrecarga de trabalho. Um belo dia, fazendo um relatório sobre minhas funções fiquei impressionado sobre o volume de trabalho que fiz em menos de um ano. Sozinho, eu havia feito o trabalho de quatro profissionais. Detalhe: quando comecei a trabalhar no setor, havia cinco jornalistas. Um a um, os colegas foram saindo, por demissão ou por vontade própria.

Eu fui permanecendo no emprego e no setor, porém, o quadro funcional não foi sendo reposto ou ampliado. As vagas não foram preenchidas, e as funções iam sendo distribuídas para os profissionais que permaneciam trabalhando no setor. Até que o quadro foi reduzindo, reduzindo, reduzindo, até sobrar o caboclo aqui. No início, só me restava dar conta, na medida do possível. Só que o grau de exigência para um indivíduo era como se fosse para uma equipe. Por dois anos e meio escutei a promessa por parte da minha chefa de que ela não estava poupando esforços para negociar junto à direção da empresa novas contratações para o setor. Dois anos e meio. Adivinhem se houve aumento de salário para o profissional que sobrou no setor...

Quando você faz o seu trabalho e de mais outras pessoas, você precisa delegar, você precisa de pessoas para ajudar, que na maioria das vezes estão esperando o mundo acabar em barranco para se escorar essa é a verdade do mundo corporativo, o problema é que nem todo mundo está na mesma sintonia.

Por coincidência (ou não), meses antes da minha demissão eu mencionei em relatório para a líder do setor que eu estava fazendo sozinho ʺa função de vários profissionaisʺ, tendo ainda que ser ʺcriativo, rápido, talentoso e eficienteʺ. A chefa me encheu de desculpas colocando, claro, a culpa na empresa, que não contratava, mas que ela via o meu esforço profissional e que ʺnão estava medindo esforçosʺ para tentar ampliar a equipe.

Quando eu pensei que iriam me aliviar o volume de trabalho (que já era cavalar), qual minha surpresa? A cada dia eu recebia MAIS TRABALHO AINDA, com cobranças e exigências diárias, algumas até virulentas. Fora a participação de aspones que vivem puxando o saco da chefia.



Falando em chefia, casualmente ou não o grau de cobrança exigido a mim passou a ser maior quando assumiu um diretor vindo de terra distante querendo mudar toda a estrutura do setor. Por exigência do tal diretor, tivemos que nos mudar de prédio e ele quis o término do trabalho em home office (estávamos em plena pandemia e sequer havia iniciado a aplicação da primeira dose da vacina contra a Covid-19 no Brasil). Meus gestores passivamente e incontestes tal qual vaquinhas de presépio aderiram de primeira hora às ideias do cara que mal conhecia Porto Alegre nem a realidade da instituição.

Um belo dia, após um período ensandecido de trabalho e de finalmente ter batido a meta, fui chamado à salinha da chefa e fui comunicado de que meus serviços estavam sendo dispensados naquele momento.

Respeito muito todos os profissionais que trabalhei, mas me respeito muito mais, e sinto bastante a falta de respeito com que fui tratado. Me chamaram para me demitir às nove da manhã, na volta das férias obrigatórias de final de ano (aquele período que abrange a semana anterior ao Natal e vai até a semana posterior ao Ano Novo). Eu iria pedir para a minha chefa para sair um pouco mais cedo para uma consulta médica. Dificilmente eu saía no meio do trabalho para esse tipo de coisa. Nem atestado eu apresentava. Perdi as contas de quantas vezes fui trabalhar doente, febril, e com a saúde descontada. Quando entrei na salinha notei que ao lado da minha chefa estava a encomendada do RH. ʺSenta aíʺ, disse a chefia. Entendi tudo. Era só somar 2 + 2. Ao sentar, senti que estava na rua.

De certa forma, não fiquei surpreso com a demissão, mas com a forma. Ironicamente, o diretor vindo de terra distante que chegou para revolucionar o setor foi mandado embora poucas semanas depois de mim. Os colegas, arrancados do home office, por ordem da direção suprema da empresa, voltaram a trabalhar de casa.

Mas sabe a minha tranquilidade? Conheço o incrível profissional que eu sou. Sei o que estudei, ralei, sofri, trabalhei para chegar onde estou. Sei do meu valor. A instituição não me merecia.

Sabemos que mentes pequenas estão predestinadas a definhar em alguns anos! Vamos avante! Que venham os próximos desafios.