E foram vários. Acho que uns 50, num cálculo baixo, num período de quatro anos. Muito em função das tais interiorizações, que eram a transferência do gabinete do governador para uma cidade do interior, conforme a região. Geralmente isso acontecia uma ou duas vezes por mês.
Eu era o coordenador do serviço de rádio do Palácio Piratini. Liderava uma equipe de três pessoas (dois jornalistas CC's e um técnico operacional) mais dois estagiários. Eu respondia pelo estúdio de rádio, o local da histórica transmissão da Rede da Legalidade. Fazia transmissões ao vivo; acompanhava a agenda do governador para gerar notícias que resultavam em boletins gravados (nossos maiores "clientes" eram as rádios do interior e emissoras independentes); releases eletrônicos; mantinha contatos com os meios de comunicação; acompanhava entrevistas coletivas; produção de projetos especiais e mais uma gama de funções (quebra-galhos).
Voltando às interiorizações, das inúmeras que fiz, teve uma bem marcante: a visita ao castelo da família Assis Brasil, em Pedras Altas, cidade localizada a uns 300 quilômetros de Porto Alegre, em março de 2005.
O Castelo de Pedras Altas, idealizado por Joaquim Francisco de Assis Brasil, se localiza no município de mesmo nome, ao sul do Estado. A construção, com traços medievais, durou de 1909 a 1913. Foi prova de amor de Assis Brasil à segunda esposa, Lídia Pereira Felício de São Mamede. Ele não mediu esforços para concretizar o projeto. Trouxe calceteiros da Espanha especialmente para erigir o castelo onde foi assinada a Paz de Pedras Altas, acordo que pôs fim à Revolução de 1923, repetição do confronto entre chimangos e maragatos.
Assis Brasil transformou a propriedade em espaço altamente produtivo que impulsionou a atrasada pecuária gaúcha. Promoveu a importação de matrizes das raças Jersey (da Inglaterra), além de touros Devon, cavalos árabes e ovelhas Karakuk e Ideal. Introduziu novas espécies de árvores, construiu estrebarias, galpões e porteiras que funcionam até hoje. Foi inventor de diversos utensílios, como a bomba de chimarrão de mil furos que jamais entope e leva o seu nome.
Na entrada da propriedade é possível ler, lapidada no piso, a frase: “Bem-vindo à mansão que encerra / Dura lida e doce calma / O arado que educa a terra / O livro que amanha a alma”.
A biblioteca é composta de 15 mil exemplares. O lugar abriga obras em inglês, francês, português e latim. O castelo mantém até hoje móveis trazidos de Nova Iorque. Foram instaladas 12 lareiras, espalhadas pelo prédio para enfrentar o rigoroso inverno do pampa gaúcho.
Apesar de eu integrar a comitiva governamental, apenas o chefe do Executivo estadual e mais meia dúzia de seletíssimos convidados entraram na histórica edificação. Na época, o imóvel estava fechado para visitações pois estava à venda. Foi oferecido ao município de Pedras Altas, ao Estado e à União. Os descendentes de Assis Brasil desistiram. O custo de conservação é muito elevado, impossível de ser coberto com a simples cobrança de ingressos.
Na próxima narrativa falarei sobre a transmissão da rede de rádios que fiz na interiorização em Pedras Altas.