sábado, junho 26, 2010

Vuvuzela, grito negro de liberdade


O Dr. Antônio Carlos Côrtes, um dos mais competentes e talentosos advogados criminalistas brasileiros e uma das minhas referências como comunicador em transmissões carnavalescas, além de amigo e confrade, escreveu um comovente artigo no jornal Zero Hora, publicado no dia 23.06.2010 sobre as controversas vuvuzelas, sopradas pelos torcedores sul-africanos que assistem os jogos da Copa do Mundo.

Em vez de ver as cornetas compridas como um incômodo, Côrtes observa que o instrumento, antes de mais nada, pode ser definido como um símbolo de resistência do povo sul-africano. Confira, na íntegra, a reprodução do texto publicado:

"VUVUZELA, GRITO NEGRO DE LIBERDADE, por Antonio Carlos Côrtes

Eu sou o mestre do meu destino.
Eu sou o comandante da minha alma.

Nelson Mandela

As polêmicas vuvuzelas, cornetas sul-africanas, causam diversas manifestações. Muito se tem escrito a respeito. Mas a maioria se posiciona de forma contrária, e pronto. Raros partem a aprofundar o respeito à cultura de um povo.

Um pouco de pesquisa e conhecimento não faz mal a ninguém. Mas o que é a vuvuzela? Isizulu é uma das 11 línguas faladas na África do Sul. Nela, encontramos a tradução de “vuvuzela”, que tem na raiz “vuvu” o significado de soprar, enquanto o sufixo “zela” é o objeto comprido, longo.

Os reclamos partiram das grandes redes de televisão europeias. Como sempre por aqui, apenas começaram a repercutir e ampliar o assunto. Aliás, nosso país sempre importou cultura europeia, desdenhando o que vinha naturalmente do nosso povo, como por exemplo o Carnaval. Júlio de Castilhos chegou a acabar com as cavalhadas porque estas vinham do povo. O que é popular não é cultura, defendem os que têm visão à altura da soleira da porta.

Voltando às vuvuzelas, o Comitê Organizador da Copa do Mundo, frente aos reclamos das emissoras de televisão e rádio, reuniu-se, estudou o assunto e bem decidiu pela manutenção: “Elas têm origem nas cornetas que nossos ancestrais usavam para convocar reuniões”. Logo, é preciso respeito à cultura de um povo, cujo líder, Nelson Mandela, passou 20 anos preso para garantir a liberdade do seu povo, por exemplo. Gente que foi assassinada, estuprada, trucidada, escravizada e espoliada.

O berço da humanidade, está comprovado, tem origem no continente africano, onde sua gente, apesar de tudo, é alegre, dançante e parece perdoar seus algozes em uma atitude de grandeza e amor ao próximo.

Um repórter brasileiro, ouvindo uma moça negra em Joanesburgo, perguntou o que significava para ela a realização da Copa do Mundo de Futebol em seu país. A resposta veio rápida, mas profunda em emoção que resume tudo:

– Me sinto em liberdade!

Ora, bem sabemos que o apartheid, tanto quanto a abolição da escravatura entre nós, acabou de direito, mas não de fato. A verdadeira liberdade ainda precisa ser palmilhada com extremo cuidado. Vejam aqui o Estatuto da Igualdade Racial, aprovado, mas... sem as cotas.

Tentar calar as vuvuzelas é atentar contra a cultura de um povo. É amordaçar o grito negro de liberdade."

quarta-feira, junho 16, 2010

Autobiografia de um ex-negro



Esta quinta-feira, dia 17 de junho, marca os 139 anos de nascimento de James Weldon Johnson (1871-1938). Professor, poeta e compositor, é autor de um livro que é hoje tido como um clássico da literatura afro-americana, A autobiografia de um ex-negro, inédito em português, é um lançamento da editora 8Inverso Editora.

O livro – publicado anonimamente em 1912 – é considerado um marco por ter sido o primeiro romance de ficção escrito por um negro nos Estados Unidos. Johnson conta a experiência sobre o que é ser um negro estadunidense no final do século 19 e início do século 20. O autor foi um respeitável como respeitável ativista dos direitos civis e um dos mais importantes escritores do movimento artístico conhecido como Harlem Reinassance.

Em seus anos finais, escreveria ainda um dos mais conhecidos livros sobre a questão racial americana, intitulado Negro Americans, What Now? (1934), no qual aponta a integração como o único caminho possível para a solução dos problemas raciais nos EUA. Morto em um acidente automobilístico em 26 de junho de 1938, seu funeral reuniu mais de duas mil pessoas no Harlem, em Nova Iorque.


domingo, junho 13, 2010

Um herói que mata


Em um relacionamento, muitas vezes nós temos que bancar os heróis. Nunca podemos demonstrar medos nem inseguranças. Temos que ser infalíveis como um Bruce Lee ou um anti-herói "cafa" estilo o pirata Jack Sparrow. Ou daqueles bucaneros dos antigos filmes de Erroll Flynn. Um herói que mata, que faz justiça com as próprias mãos, que extermina.

Muitas vezes somos idealizados por outras pessoas como seres perfeitos. Aí é que está o perigo! Como não somos perfeitos (e ninguém o é) e caso sejamos descobertos que não somos perfeitos passamos a ser tachados de fraude, embuste, ou simplesmente, causamos frustração. Nos filmes, desenhos e HQs é tão mais fácil...


UM HERÓI QUE MATA

(autor: Leoni. Canta: Heróis da Resistência - disco Heróis Três/1990)

PRA ELA EU SOU PERFEITO
EU SOU ALGUM PIRATA
PRA ROUBAR TEU SONO
UM HERÓI QUE MATA

EU SEI QUE ELA DESEJA
QUE EU SEJA ESSA AMEAÇA
A DOSE DE CORAGEM
A EMOÇÃO QUE FALTA

E EU TENHO TANTO MEDO
SERÁ QUE É TARDE OU CEDO
E EU ME SINTO DIVIDIDO
ENTRE PRINCÍPIOS E DESEJOS

E ELA TEM TANTO MEDO
E EU NÃO SOU NEM METADE
DA METADE DA METADE
DO QUE EU QUIS SER DE VERDADE

GASTEI TEMPO EM NADA
DA FORMA ERRADA
MAS DEIXEI O MELHOR PRO FIM
NEM PIRATA
NEM HERÓI QUE MATA
PRA VOCÊ O MELHOR DE MIM

ENQUANTO EU BRINCO DE PIRATA
DE BRINCO E TATUAGEM
EU QUASE VIRO ESCRAVO
DESSA PERSONAGEM

SE ELA ENCOSTA NO MEU PEITO
A CABEÇA NO MEU OMBRO
SOU EU QUE PERCO O SONO
PRA ELA EU SOU PERFEITO

E A GENTE É TÃO PEQUENO
E ACHA QUE MOVE O MUNDO
E SE PERDE EM VAIDADE
E SE ACHA SEMPRE TÃO PROFUNDO

ACHO QUE TODO MEDO
É DE NÃO TER SEGREDO
MAS O SEGREDO É NÃO TER MEDO
DE MORRER POR SEUS DESEJOS