* "Sentado na lua pra te ver passar
Um Pierrot a dedilhar nossa canção"
Meu amigo Manfredinho é um cara romântico. Mais. É um cara ultrarromântico. Tivesse nascido no século 18 seria um poeta ao estilo Álvares de Azevedo, um Casemiro de Abreu. É do tipo que sofre por mulher. Praticamente um pierrô. Daqueles que dedilha suaves melodias em um alaúde olhando para o luar.
Manfredinho não estava feliz no seu relacionamento. Rapaz trabalhador, porém, de origem humilde, batalhava na agrura do dia a dia. Porém, os pais de sua namorada não o consideravam "à altura" de desposar sua filha. Sabe como é, família de posses, poderiam achar que o cara queria dar um golpe do baú, ser sustentado, sogro e cunhada não lhe viam com bons olhos, etc. Ao saber e perceber isso, Manfredinho ficou bem mal, tal qual um palhaço melancólico saído da Commedia dell'arte. Nunca antes na história deste país sentiu esse tipo de desgosto. Pensou até em terminar com a namorada. Sacrificaria seu relacionamento, mas manteria sua dignidade. Quem é que não quer ser feliz?, já perguntava Edivaldo Santana.
Nesse tempo de carência, Manfredinho se reaproximou de Lenara, uma ex-colega de trabalho. Os dois nutriam há tempos uma bela amizade um pelo outro, mas, até então era tão somente amizade. Falante, bem humorada e extrovertida. E bonita. Sim, bonita, com atitude e sex-appeal. Assim era Lenara, que divertia bastante Manfredinho. Uma verdadeira colombina. Trocaram papos. Trocaram ideias. Trocaram confidências. Trocaram carícias. Até beijos trocaram. Mas, assim ó, sem compromisso, visse?
- Que legal. Achei uma nova razão para viver!, exultava Manfredinho, enquanto seu relacionamento com a namo descia ladeira abaixo. O fato de passar a gostar de Lenara rendeu vários encontros, boas risadas, alguns beijos e a agradável sensação de novamente ser bem-quisto e amado por alguém.
Tava tudo muito bom, tava tudo muito bem, mas... sempre tem que ter um "mas", não é mesmo? Alegando ter reencontrado um ex-grande amor que jazia inerte nas profundezas do passado, Lenara resolve dar uma segunda chance ao hellraiser. E, novamente, nosso pierrô fica sem a paixão de uma colombina.
Manfredinho aceitou que Lenara fosse atrás de seu antigo amor, mas gostaria de continuar tendo acesso àquelas conversas sempre regadas de bom humor, inteligência e amizade, tão bem alicerçadas num momento delicado. O fato de Manfredinho ter aceitado numa boa parece que até rendeu comentários elogiosos junto às miguxas da moça, frisando a maturidade do dito cujo. Mas em seguida, Lenara afastou-se. Foi embora da vida de Manfredinho que nem chuva de verão. E isso não estava previsto no script, Mr. Hitchcock!
- Por que você sumiu?, indagou nosso tolo personagem em alguns caracteres redigidos às pressas em uma beócia e ingênua mensagem SMS. Perguntou na boa, sempre nenhum tipo de cobrança, afinal, eram apenas bons amigos e isso tinha ficado bem claro. Ou melhor, tinha ficado tácito. Ninguém quer sofrer a perda de uma amizade.
A menina parece que não curtiu muito essa "cobrança". Dizem até que a moça comentou o assunto com as miguxas, salientando a imaturidade do dito cujo. "Ah, se fosse eu que tivesse feito isso", pensou o clown. "Se é um homem que faz isso - acender a paixão de uma mulher e depois se afastar - o cara é um insensível, um oportunista que deixa os corações femininos em frangalhos e é classificado com toda uma série de impropérios sob a óptica das indefesas damas". Mas como é uma dama a fazer isso, entonces, let it be.
Mas Manfredinho é um pierrô indomável. Voltou a dedilhar seu alaúde, olhando para o céu, mirando a lua, entoando uma cantiga dolente para sua colombina imaginária e perdoando as amebas do mal.
Um Pierrot a dedilhar nossa canção"
Meu amigo Manfredinho é um cara romântico. Mais. É um cara ultrarromântico. Tivesse nascido no século 18 seria um poeta ao estilo Álvares de Azevedo, um Casemiro de Abreu. É do tipo que sofre por mulher. Praticamente um pierrô. Daqueles que dedilha suaves melodias em um alaúde olhando para o luar.
Manfredinho não estava feliz no seu relacionamento. Rapaz trabalhador, porém, de origem humilde, batalhava na agrura do dia a dia. Porém, os pais de sua namorada não o consideravam "à altura" de desposar sua filha. Sabe como é, família de posses, poderiam achar que o cara queria dar um golpe do baú, ser sustentado, sogro e cunhada não lhe viam com bons olhos, etc. Ao saber e perceber isso, Manfredinho ficou bem mal, tal qual um palhaço melancólico saído da Commedia dell'arte. Nunca antes na história deste país sentiu esse tipo de desgosto. Pensou até em terminar com a namorada. Sacrificaria seu relacionamento, mas manteria sua dignidade. Quem é que não quer ser feliz?, já perguntava Edivaldo Santana.
Nesse tempo de carência, Manfredinho se reaproximou de Lenara, uma ex-colega de trabalho. Os dois nutriam há tempos uma bela amizade um pelo outro, mas, até então era tão somente amizade. Falante, bem humorada e extrovertida. E bonita. Sim, bonita, com atitude e sex-appeal. Assim era Lenara, que divertia bastante Manfredinho. Uma verdadeira colombina. Trocaram papos. Trocaram ideias. Trocaram confidências. Trocaram carícias. Até beijos trocaram. Mas, assim ó, sem compromisso, visse?
- Que legal. Achei uma nova razão para viver!, exultava Manfredinho, enquanto seu relacionamento com a namo descia ladeira abaixo. O fato de passar a gostar de Lenara rendeu vários encontros, boas risadas, alguns beijos e a agradável sensação de novamente ser bem-quisto e amado por alguém.
Tava tudo muito bom, tava tudo muito bem, mas... sempre tem que ter um "mas", não é mesmo? Alegando ter reencontrado um ex-grande amor que jazia inerte nas profundezas do passado, Lenara resolve dar uma segunda chance ao hellraiser. E, novamente, nosso pierrô fica sem a paixão de uma colombina.
Manfredinho aceitou que Lenara fosse atrás de seu antigo amor, mas gostaria de continuar tendo acesso àquelas conversas sempre regadas de bom humor, inteligência e amizade, tão bem alicerçadas num momento delicado. O fato de Manfredinho ter aceitado numa boa parece que até rendeu comentários elogiosos junto às miguxas da moça, frisando a maturidade do dito cujo. Mas em seguida, Lenara afastou-se. Foi embora da vida de Manfredinho que nem chuva de verão. E isso não estava previsto no script, Mr. Hitchcock!
- Por que você sumiu?, indagou nosso tolo personagem em alguns caracteres redigidos às pressas em uma beócia e ingênua mensagem SMS. Perguntou na boa, sempre nenhum tipo de cobrança, afinal, eram apenas bons amigos e isso tinha ficado bem claro. Ou melhor, tinha ficado tácito. Ninguém quer sofrer a perda de uma amizade.
A menina parece que não curtiu muito essa "cobrança". Dizem até que a moça comentou o assunto com as miguxas, salientando a imaturidade do dito cujo. "Ah, se fosse eu que tivesse feito isso", pensou o clown. "Se é um homem que faz isso - acender a paixão de uma mulher e depois se afastar - o cara é um insensível, um oportunista que deixa os corações femininos em frangalhos e é classificado com toda uma série de impropérios sob a óptica das indefesas damas". Mas como é uma dama a fazer isso, entonces, let it be.
Mas Manfredinho é um pierrô indomável. Voltou a dedilhar seu alaúde, olhando para o céu, mirando a lua, entoando uma cantiga dolente para sua colombina imaginária e perdoando as amebas do mal.
Mais romântico, impossível.
* Meu agradecimento aos compositores Rodrigo Raposa, James Bernardes, Leandro Kfé, Júnior Santana e Thiago Meiners, autores dos versos que ilustraram e inspiraram este miniconto.
* Meu agradecimento aos compositores Rodrigo Raposa, James Bernardes, Leandro Kfé, Júnior Santana e Thiago Meiners, autores dos versos que ilustraram e inspiraram este miniconto.
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