Esse verão foi estranho pra mim, diria até que foi cabuloso, o mais estranho que vivi. Eu praticamente não vi o verão passar. Sentir, eu senti, claro. Tremendo calorão, verdadeira fornalha. “Forno Alegre”. No trabalho, a equipe estava sempre fatiada. Gente trabalhando na praia, em Capão e em Cassino. Gente de férias. Gente “cedida” para outros departamentos. Depois veio a campanha das prévias. E o Gersinho aqui se virando nos trinta, que nem aquele malabarista que equilibra pratos giratórios com as mãos, com o queixo, com o nariz e até com os ombros. Isso sem falar que tive que antecipar a recuperação da minha cirurgia devido a “interesses superiores”. E a minha saúde que se fú, né? Fui pra praia nos quatro finais de semana de janeiro. Os dois primeiros em Rainha do Mar, na casa da Lê, e os dois seguintes em Tramandaí, na colônia de férias do Geraldo Santana. Bah, correria durante a semana no trabalho e correria durante o final de semana naquele vai-sábado-pro-litoral-e-volta-domingo-pra-capital. Não dava nem pra tomar o gostinho. E é engraçado que quando a gente chega na praia e se afasta dessa panela de pressão chamada Porto Alegre, dá uma sonolência... Ah, ficar na praia dá uma paz, faz um bem.
Tirei 15 dias de férias e nesse meio tempo houve o carnaval. Descansei carregando pedras, pois comentei os desfiles de Porto Alegre pela Rádio Guaíba. Terminou o carnaval e – vupt – de volta à realidade palaciana. E dê-lhe audiências em gabinetes, viagens, reuniões de pauta, plantões, coordenar o estúdio, aturar delírios (vários), incomodações (muitas), nunca aparentar estar cansado ou descontente, sorrir e ser simpático com todo mundo e blá-blá-blá whiskas sachê.
Aí eu chego em casa e tenho que pagar as contas de telefone, luz, condomínio, net, internet, seguro do carro, a minha Unimed e o Ulbra Saúde da minha mãe, providenciar o salário da empregada, me preocupar em mandar arrumar o vaso sanitário que entupiu porque caiu o refil do Pato Purific, brigar com o cara da desentupidora picareta que me enrolou durante quase uma semana e não consertou o estrago, sustar o cheque dessa firma FDP, me estressar com a velha do térreo que acha que a umidade da parede no apartamento dela é por causa de um vazamento no nosso apê, fazer cálculos pra ver se não vou entrar no cheque especial, torcer para que o mês termine logo, nunca aparentar estar cansado ou descontente, sorrir e ser simpático com todo mundo e blá-blá-blá whiskas sachê.
E depois de tudo isso, a Lê exige toda a atenção do mundo, tenho que escutar todo um rosário de reclamações, não posso nem ler o jornal no domingo, e eu nunca posso aparentar estar cansado ou descontente, sempre ter que sorrir e ser simpático com todo mundo e blá-blá-blá whiskas sachê.
E tem gente que ainda por cima me acha um cara muito calmo e tranqüilo e que pensa que aparentemente eu não tenho problemas na minha vida. Como se vê, quase não tenho mesmo. O resto é blá-blá-blá.
2 comentários:
Hahaha, esse teu post parece aquela clássica redação do colégio:
"As minhas férias foram"
só que no teu caso, não foram férias, então...
"As incomodações do meu verão foram"
Bjs, Brisa
O problema de se sair neste feriadão para colocar a cabeça em ordem, é que a gente pode perder ela de vez. Sei como se sente, me lembro bem daquele almoço lá no Rua da Praia, quando a gente chorou as pitangas um do outro...acho que foi bom, é bom saber que existem amigos! Putz, fico pensando, e não paro de pensar...no que as nossas vidas se transformaram, me pego lembrando de 20 anos atrás, e tudo o que eu imaginava como seria o meu futuro, os dos meus amigos...será que sou o único que pensa nestas coisas? Parece que existem pessoas bem mais felizes que a gente, ou será que a vida é mesmo difícil?
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