sábado, junho 30, 2007

Da série "Por que eu queria ser Denzel Washington"...



...porque é um excelente ator;
...porque é um baita ator;
...porque, além de um puta ator, é irmão;
...porque deu essa bela "carcada" na Julia Roberts!!!

"Fala sério. Que mané oscar o quê! Troféu de verdade é este de vestido preto e de cabelos ruivos que eu tô agarrando pela cintura..."

terça-feira, junho 26, 2007

All we hear is radio ga ga... radio gu gu... radio blah blah



Às vezes me dá raiva em escutar rádio. Principalmente as ditas "FMs jovens". Quanta abobrinha, meu Pai do Céu!!

E o pior é que eu sou fissurado em rádio. Tenho esse utilitario inventado por Marconi no carro, no quarto, no computador, no walkman (bah, nessa época de iPods, pen drives e mp3 e mp4 players, invocar o hoje quase obsoleto walkman é bem coisa de tiozão) e até na cozinha. E, se possível, não dispenso um radinho quando estou trabalhando nem quando vou dormir. Coisa boa é pegar no sono escutando uma música ou um bom programa na madrugada...

Mas o lance é que é preciso uma paciência de Jó. Para os encontrar os tais "bons" programas de rádio, é necessário dar uma de Indiana Jones para ir ao encontro aos tesouros perdidos.

Digo isso porque me irrita profundamente esses programas para jovens que algumas emissoras têm a coragem de pôr no ar. O público-alvo - o jovem - é retratado como um babaca, beócio, parvo e tolo. Programas sem idéias, sem conteúdo, só cretinice. E um programa se assemelha bastante com o da emissora concorrente. Parece que é deflagrado um campeonato para saber quem é que fala mais bobagem. Meu Deus! Não é só revistas, filmes e novelas que devem ser classificados como impróprios para menores de 18 anos. Tem muito programa de rádio que, de tão ruim, chega a ser pornográfico.

E o jovem, será que aceita consumir esse tipo de produto, que é um verdadeiro atentado ao bom senso, ao bom gosto, à inteligência?

O supergrupo Queen já cantava uma certa decadência da programação radiofônica, nos idos do início da década de 1980, perante o surgimento da MTV e o que se ouvia naquela época era apenas gagá, gugu, bla-blá.

All we hear
Is radio ga ga
Radio goo goo
Radio ga ga
Radio blah blah
Radio what's news?
Radio someone still loves you


Tudo o que se ouve
É gagá, gugu, bla-blá
Rádio, cadê as notícias, as novidades?
Rádio, alguém ainda te ama


Dois programas que eu gosto de escutar nas FMs jovens que, infelizmente, são transmitidos quase no mesmo horário. O Pânico (Jovem Pan FM, do meio-dia às 14h), em que se faz um humor profissional, com direito à iconoclastia dos ídolos de pés de barro e das efêmeras celebridades artificiais catapultadas à fama pelos reallity-shows da vida. E também o Talk Radio (Ipanema FM, do meio-dia às 13h), com a apresentação de Kátia Suman, discutindo assuntos do momento e fazendo a galera pensar.

O resto, infelizmente, é café pequeno.

domingo, junho 24, 2007

Onde estão os negros da Argentina?


Na próxima terça-feira (26) inicia mais uma Copa América de Futebol. E a Seleção Brasileira, treinada por Dunga, estréia na quarta (27) contra o México, na cidade venezuelana de Puerto La Cruz.

Mas peguei o assunto do futebol só como gancho. É que uma coisa sempre vinha me deixando intrigado: nunca vi um negro atuando em qualquer seleção esportiva argentina, seja em Copa do Mundo, Jogos Pan-Americanos ou Olimpíadas. O que aconteceu com os negros do vizinho portenho?

Houve escravidão em toda América Latina. A importação de negros chegou até esta parte do Hemisfério Sul. Basta ver atletas e artistas brasileiros, uruguaios, colombianos, equatorianos, venezuelanos, peruanos, etc. E na Argentina, o que houve? Meu irmão Gilson esteve na Argentina há cerca de 10 anos. Viajou com colegas da faculdade na época em que ele cursava Geografia na Ufrgs para um encontro universitário em Buenos Aires. E ele, que tem a pele levemente mais escura do que a minha, disse que os estudantes argentinos puxavam papo com ele em francês, pensando que ele tivesse nascido no Senegal, Camarões ou Costa do Marfim (países africanos que foram colônias francesas). E ele chamava a atenção por ser negro. Era o chocolate no meio do creme de baunilha. Foi por essas curiosidades que eu resolvi dar uma pesquisadinha no assunto.

Na Argentina não tem negros porque foram todos mortos há pouco mais de um século. Jorge Lanata é um dos mais importantes jornalistas argentinos, fundador do diário “Página/12” e autor de Argentinos (em espanhol, Editora Argentina), uma belíssima história de seu país em dois volumes, lançada em 2002. Nos livros, ele batiza os negros de los primeiros desaparecidos, referência aos mortos pela ditadura militar recente. E traz números: no censo de 1778, 30% da população tinha origem africana. A proporção se mantém no censo de 1810, cai para 25% em 1838. Em 1887, repentinamente, compõe menos de 2%. Mas no início, bem no início, há depoimentos de que a proporção de negros e brancos em Buenos Aires chegou a ser de 5 para 1.

Durante seu primeiro século de vida, a capital argentina sobreviveu às custas do comércio negreiro. No século 16 até a primeira metade do 17, a coroa espanhola drenava o ouro e a prata do Potosí, na atual Bolívia. Foi este o negócio que batizou o Rio da Prata – e foram principalmente mãos negras que tiraram das minas subterrâneas os metais que sustentaram a Europa. Os escravos que trabalharam no Potosí vinham principalmente de Angola. Eram negociados pelos peruleiros, que faziam a rota Potosí-Buenos Aires-Rio-Luanda. O Rio de Janeiro também sobreviveu economicamente por conta do tráfico, numa época em que o açúcar do Nordeste era de qualidade muito maior. No Rio chegavam os escravos, pagos em boa parte não com dinheiro mas com açúcar, cachaça, mandioca e tabaco, que serviam de moeda de troca na África. Os escravos eram transportados então para Buenos Aires, onde entravam ilegalmente, e enviados Prata acima até as minas. Era um jogo onde todos, inclusive os governadores, eram contrabandistas. A relação na rota de tráfico entre Rio e Buenos Aires era tão íntima que, quando veio a separação da União Ibérica, os cariocas chegaram a sugerir aos hermanos que se bandeassem para o lado português.

Como no Brasil, todo o serviço, doméstico ou não, nos séculos 17 e 18 foi feito por mão-de-obra negra e escrava na Argentina. Então desapareceram e a história local ensinada nas escolas se cala sobre o assunto. Francisco Morrone, autor de Los negros en el ejército: declinación demográfica e disolución, é um dos historiadores que tenta recuperar o que houve. Segundo Morrone, uma das coisas que aconteceu foram casamentos mistos que, lentamente, clarearam a pele de filhos e netos. É o tipo da resposta que explica quase nada. Mas aí ele mete o dedo na ferida.

A abolição da escravatura na Argentina começou em 1813, foi confirmada pela Constituição de 1853 – bem antes à brasileira. Durante o século 19 todo, o país se meteu numa guerra após a outra. Contra invasões por parte de Inglaterra e França, então a Guerra da Independência seguida do banho de sangue da luta interna entre caudilhos pelo poder e culminando com a Guerra do Paraguai, na qual seguimos aliados. Por todo este período belicista, a Argentina pôs seus negros na linha de frente dos exércitos, os primeiros a levar tiros, às vezes de espingardas – muitas vezes servindo de isca para que o inimigo gastasse as balas de canhão.O golpe final foi a grande epidemia de Febre Amarela em 1871, que se abateu sobre os bairros de Buenos Aires para onde os negros que sobraram foram transferidos. Depois, nos primeiros anos do século 20, assim como no Brasil, houve uma enorme migração européia, principalmente de italianos, que marcaram o sotaque portenho como marcaram cá o paulistano. A diferença é que, a essas alturas, os poucos mulatos não tiveram melanina suficiente para escurecer a pele da população restante.

A Argentina teve, sim, escravos, exatamente como o Brasil e na mesma proporção. Nos momentos seguintes à sua independência, aboliu a escravidão para pôr em marcha uma política de branqueamento da população. No caso, isso quer dizer genocídio. Diga-se de passagem, nos primeiros anos da República isto foi motivo de inveja por parte do governo brasileiro. Não há inocentes.

sábado, junho 23, 2007

Mangueira, estou na plataforma da estação primeira

Meu pai era fã do cantor Jamelão. Na época da "eletrola", o Seu Paris gostava de botar um LP e ficar imitando a voz do intérprete mangueirense pela casa todas faixas do disco. Eu me criei escutando o meu pai cantar as músicas de Lupicínio Rodrigues na voz do "Jamela".

Poucos dias depois que o meu pai se foi, passou um programa especial sobre o Jamelão na televisão justamente cantando aquelas músicas que eu escutava desde a infância. Pronto. A partir daquele momento, percebi que eu sou uma manteiga derretida e que fiquei muito suscetível a me emocionar facilmente. Não são lágrimas de tristeza, mas gotas de saudade.

Não escuto mais a voz de meu pai e a de Jamelão está debilitada devido a dois AVCs sofridos pelo cantor no ano passado e é bem provável que a gente não a ouça mais, já cansada, do alto de seus 94 anos.

Mas, como as músicas são eternas e para a gente ficar feliz, divido com todos dois momentos do grande Jamelão:

1) primeiro, um vídeo do cantor, recebendo Chico Buarque para uma roda de samba no morro de Mangueira. A música é "Piano na Mangueira", parceria que Chico e Tom Jobim fizeram quando o segundo foi tema do carnaval da verde e rosa, em 1992. O vídeo tem direito até a participação de um cachorro latindo e fazendo xixi.



Mangueira
Estou aqui na plataforma
Da Estação Primeira
O morro veio me chamar
De terno branco e chapéu de palha
Vou me apresentar à minha nova parceira
Já mandei subir o piano pra Mangueira

A minha música não é de levantar
Poeira
Mas pode entrar no barracão
Onde a cabrocha pendura a saia
No amanhecer da quarta-feira
Mangueira
Estação Primeira de Mangueira

2) um arquivo em mp3 do único samba enredo composto por Jamelão que foi levado para a avenida. Trata-se de "Cântico à natureza - Primavera", de 1955, que tem como autores Alfredo Português e Nelson Sargento. Notem a pureza cristalina da sua bonita voz grave. Fosse nascido nos Estados Unidos, Jamelão seria um mito, tipo Louis Armstrong ou Nat King Cole. Mas, sabe como é... estamos no Brasil!

http://www.4shared.com/file/18462723/be17960c/Jamelo_-_Cntico__Natureza.html

Brilha no céu o astro rei
Com fulguração
Abrasando a terra
Anunciando o verão
Outono
Estação singela e pura
É a pujança da natura
Dando frutos em profusão
Inverno
Chuva, geada e garoa
Molhando a terra
Preciosa e tão boa
Desponta
A primavera triunfal
São as estações do ano
Num desfile magistral

A primavera
Matizada e viçosa
Pontilhada de amores
Engalanada, majestosa
Desabrocham as flores
Nos campos, nos jardins e nos quintais
A primavera
É a estação dos vegetais

Oh! Primavera adorada
Inspiradora de amores
Oh! Primavera idolatrada
Sublime estação das flores

sexta-feira, junho 22, 2007

Paulinho da Viola e os Quatro Crioulos



Esse é um tipo de música que deixa a minha vida mais feliz.

Gravado de um especial de tevê de 1980, Paulinho da Viola revive com os "quatro crioulos", momentos do show Rosa de Ouro, que lançou os cinco sambistas e mais a rainha Clementina de Jesus e que alçou os artistas à condição de grandes nomes da MPB.

Os Quatro Crioulos eram:

Elton Medeiros (de óculos, percussão): um dos mais importantes sambistas brasileiros. Parceiro musical mais constante de Paulinho da Viola. No vídeo, canta "O sol nascerá", parceria dele e Cartola.

Nelson Sargento (violão): Tive o prazer de conhecer o sambista em 1997, quando fui cobrir o festival de cinema de Gramado. Nelson foi homenageado com um curta-metragem rodado por Estêvão Chiavatta, marido de Regina Casé. No vídeo, canta "Primavera - Cântico à natureza", samba da Mangueira de 1955.

Anescarzinho (percussão): integrante da ala dos compositores do Acadêmicos do Salgueiro. Autor, entre outros, do samba enredo "Chica da Silva", considerado um dos mais belos da história do carnaval. Faleceu em 2000. No vídeo, canta "Água do rio", de sua autoria, junto com Noel Rosa de Oliveira.

Jair do Cavaquinho (de bigode): também portelense, a exemplo de Paulinho. Integrava a Velha Guarda da Portela desde os anos 80. Faleceu em 2006. No vídeo, canta "Pecadora", de sua autoria, junto com Joãozinho. A música voltou às paradas de sucesso há cerca de dois anos, ao integrar a trilha sonora de uma novela das oito, regravada pelo Grupo Revelação.

Ordem das músicas no vídeo:

Quatro crioulos (Joacir Santana - Elton Medeiros)
Rosa de ouro (Elton Medeiros - Paulinho da Viola - Hermínio Belo de Carvalho)
O sol nascerá (Elton Medeiros - Cartola)
Primavera - Cântico à natureza (Alfredo Português - Jamelão - Nelson Sargento)
Água do rio (Anescarzinho - Noel Rosa de Oliveira)
Pecadora (Jair do Cavaquinho - Joãozinho)
Pode guardar as panelas (Paulinho da Viola)
Guardei minha viola (Paulinho da Viola)

Ô, coisa boa!!!

quarta-feira, junho 20, 2007

À luta, tricolor!


Pior do que não ganhar a final da Taça Libertadores, é não chegar na final da Taça Libertadores e ainda ser eliminado na primeira fase.

Valeu, Grêmio!

Eu acredito


Milagres acontecem...


Afinal, o Inter não ganhou do Barcelona com um gol do Gabiru?


Vâmo, vâmo, vâmo Grêmiooo!!!

De novo a Amy...


Esses dias eu comentei sobre a Amy Winehouse, uma competente cantora que é a nova darling dos "mudernos". Bem, quero dizer que não tenho nada contra o som dela, que é de muita qualidade, aliás. Só acho um exagero de certos setores da mídia quererem transformá-la já numa diva.

Gente, achei uma foto dela na internet que eu me apavorei!!! Ela é bem jovem, tem apenas 23 anos, tem vozeirão, talento e aquela coisa toda. Só que ela já foi "cheinha" e me parece que a própria não curtia muito aquela situação começou a forçar a barra para perder peso. E pelo que se escuta por aí, sua dieta é regada a muito álcool.
Na foto acima, à esquerda, é a imagem atual da Amy. À direita, ela em 2003. Nem parecem a mesma pessoa, né? Na boa, magreza desse jeito é exagero e a cantora parece um cadáver ambulante. Coitada...
Qual dos momentos da Amy vocês preferem? Eu, que sou muito simpático às gordinhas (e a Leticia sabe disso), sou suspeito para falar e já fiz a minha escolha. Mas, brincadeiras à parte, a gata tem que se cuidar.
Além disso, diz que a mocinha adora um barraco. Recentemente, ela precisou cancelar alguns shows, pois quebrou dois dentes, após passar a tarde inteira num pub abaixo de drinques e cair podre de bêbada. Acho que muita gente se lembra do caso da talentosa cantora norte-americana Karen Carpenter, que muito se achava gorda e morreu anoréxica em 1983, com menos de 40 quilos.
O álbum Back to black - o segundo lançado pela cantora - traz como primeiro hit, "Rehab". Esta, por sinal, é barra pesada - a letra - cujo título, em bom português, é "reabilitação". A canção trata dos problemas da cantora com o álcool, já conhecidos publicamente ("eu e a bebida temos uma relação bem intensa, de amor e ódio", confessou ela com exclusividade para um jornal brasileiro, recentemente). Reaja, Amy! Ou melhor:
- "Rehab", guria!!!

terça-feira, junho 19, 2007

Cotas...

Estou tentando assistir ao ótimo MTV Debate, com Lobão estreando como entrevistador, mas devo confessar que não paro de ter engulhos.

O tema são as cotas para negros na universidade. E novamente volta aquela polêmica de que se trata de uma "medida racista", que se deve "melhorar o nível da educação fundamental", que deve se estabelecer cotas sociais e não raciais.

Vou reproduzir então uma entrevista publicada na edição de 30.06.2003 (há quatro anos, portanto) na Revista Época. O entrevistado era o professor Roberto Miranda (ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). É interessante ver o ponto de vista dele sobre o assunto...

ROBERTO MARTINS

Dados pessoais: Nascido em Belo Horizonte, Minas Gerais, tem 55 anos, uma filha e dois netos.

Trajetória: Economista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais, fez mestrado e doutorado nos Estados Unidos, lecionou na graduação e na pós-graduação por 30 anos e presidiu o Ipea de 1999 a 2002. Trabalha em um grupo de estudo da ONU que trata de racismo e ações afirmativas.

ÉPOCA - O que está dando errado na política de cotas para negros?

Roberto Martins - A polêmica maior ocorreu na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), com a cumulatividade da cota de estudantes de escolas públicas com a de negros. Isso resultou numa cota muito alta, mas pode ser corrigido se for eliminado o primeiro critério. De qualquer forma, as críticas eram previsíveis. Até hoje a sociedade brasileira se recusa a discutir o racismo, pois continua presa ao mito da democracia racial: a falsa idéia de que no Brasil não há discriminação.

ÉPOCA - Esse sistema não favoreceria somente negros de classe média, que nem precisariam da cota?

Martins - É claro que o sistema não teria sentido se só colocasse na faculdade pessoas que entrariam de qualquer jeito. Mas a realidade é outra. Sem a cota, os negros não estão entrando. Na Universidade de São Paulo, os negros são apenas 1,3% dos 39 mil alunos. Isso é irrisório em um país onde 45% da população é negra.

ÉPOCA - A questão não precisa ser mais debatida?

Martins - Esse é um argumento falacioso. A única maneira de debater é fazer. O movimento negro tenta debater há décadas e ninguém se interessou. Essa é a primeira vez que se ouve falar disso na rua, na fila do banco. As reclamações de quem ficou de fora são naturais. Cota é o aspecto mais polêmico da ação afirmativa. Se alguém propuser celebrar a contribuição do negro para a cultura ou criar um memorial Zumbi, ninguém reclama. Quando alguém faz ação afirmativa de verdade, há reações.

ÉPOCA - A cota da Uerj nasceu de uma ordem do governo. Não seria melhor se tivesse origem na universidade?

Martins - Claro que é sempre desejável ampliar a discussão, mas não acredito em consenso nesse caso. O Estado, portanto, faz bem em liderar o debate. Em algumas coisas, como na luta pela preservação do meio ambiente, a sociedade saiu na frente. Na questão racial, o Estado é que está à frente, e isso não é ruim.

''Vi gente dizendo que raça não existe do ponto de vista genético. Mas o problema não é genético, é social. As pessoas são vítimas de discriminação em função de características sociais. Entre os ricos, 90% são brancos e 10% negros. Entre os miseráveis, a proporção é sete negros para três brancos''

ÉPOCA - Alguns especialistas consideram que o sistema é inconstitucional, pois fere o princípio de que todos são iguais perante a lei.

Martins - Eu fico com a opinião do ministro Marco Aurélio Mello (do Supremo Tribunal Federal), que já defendeu a legalidade. A Constituição não apenas permite a adoção da cota como induz a isso, pois pede que se busquem meios para promover a igualdade. Hoje, vemos que a simples aplicação do princípio da igualdade perante a lei não promove a igualdade, mas perpetua desigualdades históricas. É como dar um Fusca a um e uma Ferrari a outro e competir com as mesmas regras. Não queremos tratar iguais de forma desigual. O objetivo é tratar desiguais de forma desigual. Tem mais: se for usar esse raciocínio, não há por que dar privilégios para deficientes e idosos, por exemplo. Isso existe porque reconhecemos uma desvantagem dessas pessoas que precisa ser compensada. Com o negro é o mesmo caso. A diferença racial não é natural. Ela foi criada e agora precisa ser desconstruída com uma ação temporária.

ÉPOCA - Quanto tempo?
Martins - A política de ação afirmativa nos Estados Unidos começou em 1975. Hoje, a classe média negra americana é quatro vezes maior, com empresários, advogados e médicos negros. Basta ver Colin Powell (secretário de Estado), que se declara produto da ação afirmativa. Três décadas, portanto, podem gerar um efeito poderoso. Suspeitamos que a desigualdade no Brasil hoje seja maior que a americana de 1975. E temos um dado impressionante: na África do Sul, mesmo durante o apartheid, a desigualdade educacional entre brancos e negros estava decrescendo. No Brasil até hoje isso não aconteceu.

ÉPOCA - Então por que nesses países há conflitos raciais e aqui não há?
Martins - Eles discutiram o problema mais cedo e a reivindicação foi mais intensa. No Brasil, a negação do racismo gera esse efeito: não se faz nada. É uma paz falsa, pois ela está ancorada na permanência da desigualdade. Não há Ku Klux Klan no Brasil, mas também não precisa ter, já que negros são mantidos fora do mercado sem violência.

ÉPOCA - Isso quer dizer que a adoção da cota poderá potencializar conflitos raciais no Brasil?
Martins - Sim, é possível. Em todo lugar onde ela foi implantada, o conflito se acirrou. Quando isso acontece, o Estado decide que a promoção da igualdade é um objetivo justo e continua bancando. O país pode ter, sim, algum conflito se implantar o sistema de promoção da igualdade racial. E o que terá se não implantar nada?

ÉPOCA - A cota não representa risco para a qualidade do ensino, já que une pessoas que estão em patamares diferentes de aprendizado?
Martins - Fui professor universitário por 30 anos e essa história não procede. Nem todo mundo que entra na faculdade é gênio. Já vi gente fraca entrar e acompanhar bem. Dizem que a cota é humilhante para o negro. Humilhante é não ter médicos, juristas e generais negros. Não se propõe cota de médicos negros nos hospitais, mas cotas para entrar no curso de medicina. Como lá dentro todos passam pelo mesmo crivo, o médico negro não será pior que o branco.

''Não temos leis racistas e de fato há um razoável grau de miscigenação, o que leva as pessoas a achar que não há discriminação. Mas isso é um mito. Note que a Ku Klux Klan apareceu nos EUA depois da escravidão. Aqui esses movimentos não surgiram talvez porque os negros não estejam disputando o mercado''

ÉPOCA - Como resolver o problema do branco que se declara negro só para se beneficiar da cota?
Martins - Toda vez que há uma política focalizada surge o problema da identificação. É inevitável. Certamente há gente fora do limite da renda do Programa Bolsa-Escola sendo beneficiada, por exemplo. De qualquer forma, uma idéia é criar controle social sobre a raça. A Uerj pode montar uma comissão da comunidade para resolver casos duvidosos. Se há dúvida quanto à cor do candidato, vamos ver qual é a percepção da sociedade sobre ele. A maioria das inscrições não dá problema e isso não pode servir de desculpa para não fazer nada.

ÉPOCA - Se a comissão disser que o sujeito não é negro, vão dizer que ela está discriminando.
Martins - Já ouvi o seguinte: 'Para resolver o problema de identificação, basta chamar a polícia. Ela sabe quem é negro e quem é branco, pois atira mais no negro que no branco'. Ora, se a sociedade brasileira é capaz de distinguir na hora de discriminar, por que não seria capaz de fazer o mesmo na hora de promover a igualdade?

ÉPOCA - Por que escolher o negro para fazer ação afirmativa, e não o índio, o homossexual ou a mulher?
Martins - Por causa do tamanho. O Brasil tem a segunda maior população negra do mundo, atrás da Nigéria. Não deixo de reconhecer outras desigualdades, mas o problema maciço é o da raça. Além disso, a questão da mulher vem sendo enfrentada com progressos no mercado. A ação afirmativa não elimina a obrigação do Estado de investir em educação. Mas, por ser persistente, o problema merece ser tratado com instrumentos específicos. Um jovem branco com 25 anos tem 2,3 anos de estudo a mais que um negro. Na época dos avós desses jovens, a distância de estudo entre os grupos era a mesma. Um século de progresso não serviu para aproximar as raças.

ÉPOCA - Na comparação de salários, a média dos negros é menor que a dos brancos. Mas isso não seria resultado apenas da diferença de escolaridade? Onde está a discriminação?
Martins - Ao comparar salários de brancos e negros com a mesma escolaridade constata-se que os negros ganham menos, o que denuncia a discriminação. Nunca vi um indicador em que o negro estivesse pelo menos empatado com o branco. Está sempre pior. O único em que há aproximação é o do acesso ao ensino fundamental, apenas porque, nesse caso, o país está próximo da universalização.


Professor Roberto Martins

Outra vez "afoxé"

Ontem, ao final da aula, passei para os alunos o endereço do meu humilde Blog du Brisa. E chamou atenção o nome e novamente me perguntaram o significado de "afoxé".

Como já estava no final da aula e eu não teria tanto tempo assim para explicar toda a história, falei que se tratava de um ritmo africano, cujo maior divulgador é o grupo baiano Filhos de Gandhi, que sai às ruas nos dias de carnaval em Salvador, todos vestidos de branco, cantando músicas sobre a paz, o amor e a fraternidade, e que o hoje ministro Gilberto Gil é padrinho do grupo desde a década de 1970. Então, vai novamente a explicação completa...

O afoxé tem três significados. Pode ser um ritmo, um instrumento musical e tem um significado religioso.

No ritmo, o afoxé em alguns lugares também é conhecido como Ijexá. Afoxé é um ritmo do candomblé. A marcação do agogô é sua batida característica, tornando esse ritmo facilmente identificável. O Afoxé se tornou popular, principalmente pela atuação do grupo baiano Filhos de Gandi. Cantores renomados como Gilberto Gil, Clara Nunes, Maria Bethânia e Caetano Veloso também interpretam afoxés, contrubuindo também para a difusão do ritmo.

O afoxé instrumento musical é composto de uma cabaça pequena redonda, recoberta com uma rede de bolinhas de plástico. Pode ser de madeira e/ou plástico com miçangas ou contas ao redor de seu corpo. O som é produzido quando se gira as miçangas em um sentido, e a extremidade do instrumento (o cabo) no sentido oposto. Antigamente era tocado apenas em centros de umbanda e no samba. Atualmente, o afoxé ganhou espaço no reggae, música pop e na chamada "axé music".

E na questão religiosa, o afoxé, também chamado de "candomblé de rua" - é um cortejo de rua que sai durante o carnaval. Sua origem remonta a uma tradição milenar africana: os caminhos sagrados para chegar aos orixás. As principais características são as roupas, nas cores destas divindades africanas, as cantigas em dialeto iorubá, instrumentos de percussão, atabaques, agogôs, afoxés e xequerês. Podem ser encontrados no carnaval da Bahia, em Salvador, e nas cidades de Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.

Quando eu estava procurando um nome para o blog, eu estava escutando um antigo samba enredo, de uma escola de samba de Niterói chamada Acadêmicos do Cubango. O nome do samba era justamente Afoxé, do carnaval de 1979, um belíssimo samba, diga-se de passagem. Achei legal o nome, oportuno, e aí está.

Quem quiser conferir o "samba que deu origem à série", estejam à vontade...



Autores: Heraldo Faria e João Belém

Abrindo o portão imaginário
Do longínquo solo africano
A Cubango traz para o cenário
Afoxé, tema original
Do reino de Oloxum
Na festa de Domurixá
Em homenagem a Oxum
Deusa da nação Ijexá
Onde a figura principal
Era o boneco Babalotim
Mensageiro da alegria, da força do axé
Um ídolo menino, levado por menino em sua fé
E assim teve origem o afoxé

Afoxé lorin, é lorin
Afoxé loriô, é loriô


Nesta festa desfilavam com riquezas
Os soberanos orientais
O advinho joga búzios com presteza
Desvendando o futuro e o que ficou pra trás
Tem as cortes dos reis Lobossi e Obá Alaké
Xangô em seu camelo sagrado
Esta é a história do afoxé
Que hoje desfila pelas ruas em rituais
Louvando os orixás

Ofi la laê, Olê loá
Ofi la laê, Olê loá

Eu na sala de aula...hehehe

Ontem à noite tive uma nova experiência em sala de aula. Após anos como aluno, tive meu momento de estar na frente de uma turma de estudantes. E desta vez eu não estava apresentando nenhum trabalho escolar. Convidado pela amiga Laura Gluer, uma ex-colega de faculdade que hoje é professora e coordenadora do curso de Jornalismo do Centro Universitário IPA, conversei com os universitários da cadeira de Assessoria de Imprensa, sobre a minha breve experiência profissional como jornalista, mais precisamente enfocando os últimos quatro anos coordenando o estúdio de rádio do Palácio Piratini.

No ano passado, também a convite da Laura, conversei com os alunos de uma outra cadeira igualmente sobre a experiência profissional. Posso não ser um cara famoso, mas sempre encarei com seriedade todos os lugares por onde passei e por todas as funções que eu desempenhei. E foi justamente nesta aula que me deu um estalo sobre a vontade de tentar ingressar numa pós-graduação e voltar a estudar. Cerca de 1 ano depois, sou funcionário do IPA e com mil idéias e projetos na cabeça. Que bom! Depois de um tempinho meio desmotivado é bom retornar com tudo.

Acho que a Laura vai me convidar novamente para falar com outros alunos dela, desta vez, com a turma da manhã. É, meu velho, é bom ir se acostumando... Quem sabe daqui a uns 2 anos e meio, por aí, eu não esteja até corrigindo prova?

sexta-feira, junho 15, 2007

A melhor cantora de todos os tempos da última semana

Finalmente me prestei para escutar a tal da Amy Winehouse, incensada cantora britânica que vem sendo a queridinha da MTV e dos "muderninhos" em geral.

Well, em primeiro lugar lá vem aquela xaropada história de que se trata de uma cantora-branca-com-voz-de-negrona que aparece a cada temporada no showbizz. Realmente, ela tem um timbre que associa às cantoras soul da década de 60/70. Aliás, o som da Amy é bem retrô mesmo. Bem executado, mas um pastiche, uma tentativa vã de tentar recordar (ou chupinhar) o clima da gravadora Motown. Tecnicamente, trata-se de uma cantora bem competente, mas parece ser um retrato na atual safra de intérpretes em que a técnica vocal supera a expressividade e as emoções.

E a Amy parece ser uma artista da "pá virada". São notórios seus problemas com álcool e drogas, além dela ter a língua afiada para alfinetar os coleguinhas de profissão.

E depois, volta e meia aparece uma nova cantora com status de "nova diva do soul", "diva soul do século 21". Lembram da Joss Stone, uma loirinha riponga que foi cantada em verso e prosa por sua voz de negrona há uns três anos? Pois é, os dois primeiros discos dela foram igualmente paparicados, mas não era bem essa a onda que ela queria para si, tanto é que o terceiro disco, lançado no início de 2007, foi intitulado "Introducing Joss Stone" (Apresentando Joss Stone), tipo, como se ela se reapresentasse: "galera, agora eu vou fazer o meu verdadeiro som porque os outros eu fiz porque os tiozão da gravadora queriam que eu virasse negona"...

A cada ano, os muderninhos elegem seus queridos. Nesta lista, além de Joss, já estiveram Alanis Morrisette, Lauren Hill, Tracy Chapman, Sheryl Crow, Nelly Furtado, Spice Girls, Mariah Carey e mais recentemente Beyoncé, uma tal de Mia e até a fedelha da April Lavigne.

Quem quiser consumir as Amy Winehouse e as Joss Stone da vida, sejam felizes... Quem quiser beber na fonte - o que eu prefiro - , vá direto com Aretha Franklin (o disco da foto abaixo Aretha sing the blues é simplesmente FODA!), Mahalia Jackson, Minnie Riperton, Roberta Flack, Gladis Knight, Etta James, Chaka Khan... Das novas, confira o trabalho correto de Erykah Badu, Macy Gray e Mary J.Blidge.



O melhor vai começar

Adoro essa música.

E eu também acredito que o melhor da vida ainda vai começar... (salve, Guilherme Arantes!)

Eu quero o sol
Ao despertar
Brincando com a brisa
Por entre as plantas
Da varanda
Em nossa casa
Eu quero amar
É lógico
Que o mundo não me odeia
Hoje eu sou mais romântico
Que a lua cheia

Você mostrou pra mim
Onde encontar assim
Mais de um milhão
De motivos pra sonhar, enfim
E é tão gostoso ter
Os pés no chão e ver
Que o melhor da vida
Vai começar!


Vídeo da época do Cassino do Chacrinha (1983).

terça-feira, junho 12, 2007

De volta ao mercado...Uhuuuuuu!!!

Pois é. Os dias de pindaíba terminaram!

Estou de volta ao mercado jornalístico. Agora, atuando na assessoria de imprensa da Rede Metodista de Educação do Sul, que atende o Centro Universitário IPA e o Colégio Americano em Porto Alegre. No interior, atendemos também a Faculdade Metodista e o Colégio Centenário, em Santa Maria, além do Colégio União, de Uruguaiana.

New life, new job, new wave! E o que importa é o que interessa e o que não interessa não importa. E cada um com seu cada qual e cada qual com seu cada um. E tenho dito!

segunda-feira, junho 11, 2007